São Paulo (AUN - USP) - As crianças do CCCA-PAM (Centro para Crianças e Centro para Adolescentes) proporcionaram recentemente aos moradores da favela de Heliópolis uma cena curiosa. Elas carregaram mais de 50 balões até o Pátio do Heliópolis, onde os soltaram. Cada um dos balões continha uma corrente com tiras de papel, em que estavam escritos seus próprios sonhos, assim como os dos seus pais e dos educadores. A atividade é resultado de uma oficina da disciplina “Arte e Paisagem em Heliópolis”, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da Universidade de São Paulo (USP).
Atividade
A ideia dos balões foi proposta pelos alunos da FAU participantes do CCCA-PAM e organizada pelos graduandos com educadores e crianças do centro. Cada uma das crianças segurou um balão e se dirigiu ao Pátio de Heliópolis, onde os soltaram. Vendo seus balões subirem, a maioria das crianças correu atrás deles, enquanto algumas gritavam a seus balões para que voassem longe e fossem pegos por algum empresário ou pelo Lula.
“Não precisa esperar que um empresário venha aqui realizar o sonho de vocês. Até porque eles estão entrelaçados um com os outros [na corrente]. E essa mensagem que vocês estão mandando para as pessoas lá de fora é de que, assim, juntos, vocês vão construir a mudança que vocês querem aqui”, explicou Euler Sandeville, professor da FAU responsável pela disciplina, às crianças logo após o evento, considerado um sucesso pelos realizadores. “Cada um reagiu diferente, mas acho que [a atividade] tocou todos de algum jeito”, acredita o professor, que ressalta também o valor poético e estético da atividade proposta.
Como conclusão das oficinas, haverá uma apresentação final conjunta com todos os sete CCCAs. Ela será preparada pelas crianças, educadores, alunos e por algumas outras pessoas que participam das oficinas, algumas delas atuantes em movimentos artísticos. Após a apresentação, a intenção é mostrá-la, ou ainda somente seus resultados, no prédio da FAU.
Disciplina
A disciplina faz parte de um projeto relacionado à paisagem e educação, chamado Espiral, de Euler Sandeville. No entanto, a pesquisa tomou um rumo totalmente diferente nesse ano. Assim, foi criada a disciplina, baseada na concepção de paisagem de Euler. “Paisagem é uma experiência que você compartilha com outras pessoas. Tem a ver com sua história de vida, seus desejos e também com trabalho coletivo”, explica.
Mais que um projeto social, sua proposta central é trabalhar com um processo coletivo de criação e aprendizagem e, assim, fazer também uma reflexão sobre o ensino na FAU. “Eu acho que o pessoal da FAU está muito preso dentro da FAU”, afirma o professor, que acredita que é essencial para a formação de um arquiteto uma convivência com o ambiente urbano.
A escolha de Heliópolis se deu justamente pela possibilidade de inserção urbana. Depois de algumas visitas a diversas favelas, Heliópolis foi escolhida. A disciplina, portanto, oferece não somente a oportunidade de trabalhar em Heliópolis, mas junto com a comunidade, realizando uma produção artística que tenha sentido dentro do contexto no qual ela está inserida.
Reforçando o caráter coletivo da disciplina, cada uma de suas etapas foi pensada conjuntamente, desde as primeiras discussões em abril sobre como seria a disciplina, iniciada nesse semestre, até seu método de avaliação. A ideia era criar “um processo que não é só seu, não é autoral, em que a decisão não é do professor”. A aprendizagem seria, então, mais livre e enfrentaria os problemas na medida em que eles surgissem.
Euler acredita que ainda seja cedo para afirmar o resultado da disciplina, marcada pelo experimentalismo. Ele afirma, no entanto, que pôde perceber como algumas ideias propostas funcionaram e outras não. “Cada aluno reagiu de uma maneira. Alguns ainda não entenderam [a proposta da disciplina], outros entenderam muito rápido”, avalia o professor.