São Paulo (AUN - USP) - A TV é um meio de comunicação que não deve ser usado para educação, segundo o professor e pesquisador do Instituto de Matemática e Estatística (IME) da USP, Valdemar Setzer. O trabalho desenvolvido por ele mostra que a TV deixa o telespectador inativo, não exige atividade mental e ainda é capaz de inibir a capacidade de imaginação e criação mental. O professor considera que a TV não tem nenhum caráter educativo pelo seu caráter instantâneo, rápido, de mudança de imagens constantes. Segundo ele, a TV não exige criação nem associação mental, ao contrário de um livro, por exemplo. O leitor precisa imaginar o que está lendo, enquanto a TV traz tudo em imagens prontas.
A TV, para o pesquisador, tem a necessidade de excitação dos sentimentos como forma de manter o espectador. Os programas tentam causar um impacto nos sentimentos, com conflitos pessoais profundos, esportes perigosos e a violência, por exemplo. Essa é a única atividade que Setzer destaca como interior e exterior, enquanto as demais são apenas exteriores (como a visão e audição parcialmente utilizadas). “Os pensamentos estão praticamente inativos: não há tempo para raciocínio consciente e para fazer as associações mentais, já que os dois são muito lentos”, escreve o professor em artigo. “O piscar da imagem, o ambiente em penumbra e a passividade física do telespectador, especialmente seu olhar fixo, fazem com que o cenário seja semelhante a uma sessão de hipnose”.
A educação, segundo descreve o professor, é um processo lento. O que se aprende instantaneamente não tem valor profundo. O processo educacional deve ainda, para Setzer, acompanhar o processo global da criança ou jovem, o que não acontece na TV pela necessidade do aparelho. A educação deve levar em conta o contexto durante o processo de aprendizagem, o que é o contrário do que a televisão faz, segundo apresenta o pesquisador, uma vez que está sempre fora do contexto do espectador.
O professor pondera que a educação deve ter como uma das suas principais metas desenvolver a capacidade de imaginar e criar mentalmente. “Mas a televisão faz exatamente o contrário: o constante bombardeio de milhões de imagens faz com que o telespectador perca a habilidade de imaginar e criar. Isso é principalmente preocupante com crianças e jovens, que estão desenvolvendo essas habilidades”.
O professor contrapõe a atividade de ver TV com a leitura de um livro. Segundo ele, o livro exige uma atividade interior, por exigir que o leitor imagine o ambiente e os personagens de um romance. Em um texto filosófico ou científico, é preciso associar constantemente os conceitos descritos. A TV, segundo descreve Setzer, não exige nenhuma atividade mental, uma vez que as imagens chegam prontas e não há nada para associar. “Não há possibilidade de pensar sobre o que está sendo transmitido, porque as velocidades das mudanças de imagem, de som e de assunto impedem que o telespectador se concentre e acompanhe a transmissão conscientemente”, segundo o professor.
Por essas características, Setzer defende que a TV pode ser apenas um meio de condicionamento, mas não de educação. Por isso, diz o professor, a TV é um casamento perfeito com a propaganda, já que o ideal é que o consumidor esteja em estado de semiconsciência, porque neste estado não há crítica.