São Paulo (AUN - USP) - A relação entre os Museus de Arte Contemporânea (MACs) e as cidades é o tema da pesquisa de doutorado de Renata Vieira da Motta. O viés adotado pela pesquisadora foi a problematização da apatia institucional presente nesses museus na atualidade. Os MACs que serviram de estudo foram apenas aqueles que são públicos, localizados em Feira de Santana (BA), Olinda (PE), Jataí (GO), Campo Grande (MS), Curitiba (PR), Porto Alegre (RS), Niterói (RJ), e os do estado de São Paulo – Campinas, Botucatu, Americana e capital, com ênfase no último. A tese defendida recentemente na unidade da rua Maranhão da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da Universidade de São Paulo (USP) foi apresentada em aula de pós-graduação no mesmo local.

Renata critica essa apatia e a falta de presença dessas instituições nos centros urbanos. Ela acredita na necessidade da museologia estar mais ligada às questões e aos discursos urbanos da contemporaneidade, com ênfase nos aspectos sociais. Como exemplo, ela comenta o período inicial do MAC da USP, em que seu diretor, Walter Zanini, realiza exposições itinerantes, com a circulação dos conjuntos das obras.

Para estudar e melhor problematizar essas instituições, ela estudou os MACs no nível macro e micro das trocas entre as redes urbanas e dentro da própria cidade. Segundo a pesquisadora, a configuração das redes urbanas pouco diz respeito a trocas culturais, embora os MACs estejam presentes em metade das metrópoles ou na área de influência das redes urbanas metropolitanas. Esses museus configuram alto potencial de veiculação e difusão dos acervos contemporâneos, ao mesmo tempo em que indicam as relações entre cultura, capital e poder.

Renata fez também um breve histórico desses museus para contextualizar seu surgimento e desenvolvimento. Ela comenta como seis desses foram criados a partir dos anos 90, em um cenário parecido com o do boom dos museus de arte contemporânea nos anos 80. A pesquisadora cita a frase do estudioso alemão Andreas Huyssen “por que estamos construindo museus como se não houvesse mais amanhã?”. A citação serve para ilustrar como os museus surgem apenas instrumentalizando, não problematizando as questões principais da arte contemporânea. Essa expansão, acredita ela, não levou à consolidação de um modelo institucional público voltado para arte contemporânea.

Renata cita a distribuição essencialmente litorânea desses museus. Ela observou também os próprios prédios dos MACs, muitos desestruturados e com problemas graves na reserva técnica. Desses, ela viu ainda quais estão inseridos em bairros urbanos, como os de Ceará, Goiás e Rio de Janeiro, e quais estão em complexos urbanos específicos, como o de Mato Grosso do Sul e São Paulo. O MAC-USP, no entanto, será transferido do campus universitário. Ela diz em sua apresentação que acha essa mudança negativa, uma vez que reduzirá a relação do museu com as pesquisas e o ambiente universitário. Ela também comenta o fato de algumas questões financeiras não terem sido devidamente explicadas.

Ainda sobre o museu da cidade universitária, ela cita o fato de que ele já surgiu do trauma da cisão com o Museu de Arte Moderna (MAM) de São Paulo, em 1963. Essa ruptura teria impedido o aprofundamento de discussões sobre as perspectivas institucionais desse que foi o primeiro MAC criado.