São Paulo (AUN - USP) - A relação entre exposição aos campos eletromagnéticos e doenças, que pode ser gerados por fios de alta-tensão e celulares, por exemplo, foi tema recorrente na terceira edição da Conferência Internacional sobre Campos Eletromagnéticos, Saúde e Meio Ambiente, que ocorreu na Escola Politécnica da USP e reuniu especialistas brasileiros e estrangeiros das mais diversas áreas, desde a toxicologia até a física. Durante os três dias, 32 pesquisas foram apresentadas, subdividas entre trabalhos técnicos, médicos e de saúde pública.
Um dos exemplos é o estudo de Nelson da Cruz Gouveia, da Faculdade de Medicina da USP, que avaliou os riscos da exposição aos campos eletromagnéticos gerados por linhas de transmissão de energia, em São Paulo. Ele analisou as mortes causadas por leucemia, esclerose múltipla e tumores cerebrais, excluindo as ocorrências que não poderiam de forma alguma ter ligação com os campos. Seu objetivo era estabelecer a relação entre a distância das residências analisadas das linhas de transmissão e a incidência das doenças, verificando se existe um aumento de risco nas moradias conforme estas fiquem mais próximas às linhas. No entanto, não foi detectada nenhuma evidência considerável: “Não há padrão quanto aos tumores cerebrais, e nos casos de leucemia e esclerose, as evidências não são o suficiente. Pode haver um aumento de risco nos casos de leucemia, mas este não é estatisticamente significante”, afirma o pesquisador.
Roel Vermeulen, da Universidade de Utrecht (Holanda), apresentou um trabalho similar. No entanto, ele analisou a exposição aos campos gerados por celulares e a incidência de tumores cerebrais e neuromas acústicos. Novamente, a pesquisa não conseguiu evidências significativas sobre a conexão entre exposição e doenças.
Todos os pesquisadores que trabalham nessa linha de estudo encontraram o mesmo problema: a falta de dados. A exposição constante aos campos eletromagnéticos, como os gerados por celulares, ainda é muito recente. “Apesar de não haver evidências, não podemos excluir a possibilidade. Ainda não existem pesquisas sobre os efeitos da exposição ao longo prazo, já que no caso dos celulares estamos observando agora a fase inicial de utilização. Outro ponto fundamental é a análise das crianças, dessa geração que tem acesso à tecnologia desde cedo, portanto o período de exposição se torna muito maior”, explica Vermeulen.
José Roberto Cardoso, vice-diretor da Escola Politécnica da USP, compara: “É como o caso dos cigarros: antigamente não se falava dos seus malefícios. Hoje, existe uma mobilização em torno do assunto, leis, campanhas de conscientização. As conseqüências da exposição aos campos eletromagnéticos estão sendo estudadas agora, e ainda não se sabe o que há para se descobrir”.