São Paulo (AUN - USP) - Um grupo de pesquisa da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da Universidade de São Paulo (USP) pretende realizar uma cartografia da cultura de lugares revelados por obras de arte, como a literatura, as artes plásticas e a arquitetura. A ideia é de fazer um estudo aprofundado, de maneira que permita a reflexão do local. Há a possibilidade de colaboração internacional, ainda em encaminhamento.

Essa cartografia seria apresentada em uma “revista eletrônica”, que se chamaria “Autopista”. O formato foi escolhido pela sua possibilidade de interação e colaboração. “O interesse é um mapa entre aspas. É um mapa dimensional, que se possa preencher de expressões, de cultura, de dizeres, de danças, de cantos...”, afirma. No momento, ainda faltam recursos para viabilizar a produção da revista.

O grupo, iniciado no segundo semestre desse ano, está em formação, contando atualmente com um mestrando e um doutorando. Há a colaboração dos também professores da USP, Ana Maria de Moraes Belluzzo, da FAU, e do professor convidado da FAU-São Carlos, Marcelo Suzuki.

O projeto deve expandir e integrar outros países. Ele despertou interesse no México, Portugal, Chile e Moçambique. A interlocução com esses países está se iniciando, somente com o México ela já está mais encaminhada. O professor pretende se dedicar a formalizar esses convênios no ano que vem.

Linha de pesquisa
O projeto é inspirado na linha de pesquisa que Luís Antônio desenvolve desde seu doutorado. O professor estudou como o modernismo buscou construir um lugar representativo da cultura brasileira. Ele adotou como base a ideia de lugar na concepção do geógrafo Milton Santos. “Um dos significados que ele apresenta é o espaço do fazer solidário. É o vínculo de natureza cultural e econômica que é feito sob a prática do fazer que define o lugar”, explica Luís Antônio.

O novo estudo é derivado de seu último trabalho, chamado Guimarães Rosa: lugares - em busca do quem das coisas. Nessa pesquisa, ele havia adotado como hipótese de trabalho a imersão no sertão na obra de Guimarães Rosa.

Após um estudo da obra do autor, o grupo da pesquisa foi conhecer os locais citados nos livros do escritor, apoiando-se também em outros estudos sobre Guimarães Rosa. Com isso, puderam fazer um levantamento da cultura do local – suas histórias, tradições, culinária, medicina, paisagem sonora, artefatos etc. – e conhecer sua sabedoria, isto é, a do homem com seu meio.

O projeto serviu não só para pesquisa educativa, mas também para outras ações como divulgação da obra do escritor no próprio sertão e outras atividades lúdicas relacionadas à arte e mesmo a construção de uma auto-estima das pessoas que se envolveram nas atividades. Além disso, foi desenhado um centro cultural baseado no conhecimento do carro de bois, do temperamento dos animais e da madeira. “Não é pra gente fazer museu e ficar colocando quinquilharia, como souvenir ou como fetiche do passado. Mas é sobre como essa cultura pode instruir uma expressão artística contemporânea, mas que tenha vínculos com essa cultura”, afirma o professor.

Essas questões sobre lugar e cultura estudadas por Luís Antônio são retomadas na nova pesquisa. Embora ainda não se tenham definidas quais obras serão escolhidas para estudo, dessa vez o sertão será deixado um pouco de lado e o foco será mais urbano. Também entrarão como referência as mais diversas obras de arte, como literatura, arquitetura, artes plásticas, cinema etc.