São Paulo (AUN - USP) - “A reforma judiciária é a tarefa mais importante do país. Se alguém ameaça levar um caso à justiça, é quase certo que não haverá solução em curto prazo”, afirmou João Sayad, atual secretário de Cultura do Estado de São Paulo, em uma palestra realizada recentemente na Faculdade de Economia e Administração (FEA) da USP. Sayad foi convidado a participar do evento FEAnos Ilustres, promovido pelo Centro Acadêmico Visconde de Cairu (CAVC) e cujo objetivo é trazer ex-alunos para discutir experiências obtidas na FEA e em suas carreiras profissionais. O secretário, que cursou graduação em Economia na faculdade entre 1964-1968, abordou temas polêmicos relacionados à política, cultura, justiça e educação.
Quando discutiu as principais mudanças a serem adotadas para que o Brasil pudesse se desenvolver com maior agilidade e estabilidade, Sayad, que tem doutorado em Economia pela Universidade de Yale e é professor da FEA, disse que a reforma judiciária é o próximo passo urgente a ser tomado. “A maior parte dos processos é demorada e custosa, então a justiça não é feita. Pois os custos com advogados, muitas vezes, não compensam o processo até o final”, afirmou. O palestrante argumentou que, sem tal reforma, a impunidade e a corrupção continuarão a afligir seriamente o país.
Já no campo político, o secretário discutiu a extinção da “taxa do lixo”, criada por ele em 2003 quando foi secretário de Finanças do Estado de São Paulo. “José Serra acabou com a ‘taxa de lixo’ por motivos eleitorais e contra minha vontade”, falou. Para o economista, a taxa do lixo era fundamental por duas razões: permitia a concessão do serviço do lixo e ainda a proteção ambiental, pois “se o cara paga pelo lixo que joga fora, vai pensar mais antes de produzi-lo”, prosseguiu. Mas, como a extinção da taxa foi uma das promessas da campanha de Serra ao governo paulista, Sayad disse que o governador não teve outra alternativa.
Quando abordou seus anos de graduação na FEA, o secretário comentou que “na faculdade aprende-se com base em três pilares: aulas, livros e colegas; e os dois últimos são os principais”. Disse que enquanto estudou (1964-1968), a faculdade não tinha nenhum professor economista. Todos os professores eram engenheiros ou contabilistas. Falou, ainda: “Na época de faculdade li dois livros, um de macro e outro de microeconomia. E conseguia as melhores notas com os professores, podendo ainda contestá-los muitas vezes”. Além disso, afirmou que os debates com seus colegas solidificaram seu conhecimento e ajudaram muito na suas análises econômicas.
Ao comentar sua passagem no governo do então presidente José Sarney, no qual foi ministro do Planejamento, o palestrante falou que “com a inflação alta, o ministro do Planejamento não tem nenhuma importância”. Explicou que quando era ministro do Planejamento, com a inflação elevada, não havia como efetivar planos. Utilizava-se o dinheiro que entrava para que o Estado não quebrasse, portanto não havia reservas para colocar projetos de médio e longo prazo em ação.
Quando finalmente introduziu seu papel como secretário de Cultura em seu discurso, João Sayad falou sobre o Programa Fábricas de Cultura (Programa Cultura e Cidadania para a Inclusão Social – PCCIS). O Programa realiza ações culturais destinadas a crianças e jovens, entre 7 e 19 anos, moradores em nove distritos da capital com baixos indicadores sociais e é financiado pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), além de ter apoio do Fundo Especial Japonês. “Pretendemos abarcar 45.000 alunos, até março do ano que vem, em programas de iniciação artística que podem ser importantes no âmbito da construção cidadã e formação profissional desses jovens”, afirmou o secretário ao comentar as previsões para o investimento que já custou, aproximadamente, R$ 40 milhões. Para demonstrar a importância pessoal do tema em discussão, João Sayad completou: “Este é um dos projetos mais importantes e ambiciosos da minha vida”.