São Paulo (AUN - USP) - "Se as autoridades estão mais conscientizadas sobre a gravidade da crise, já podemos ter uma esperança, abre uma boa perspectiva", afirmou em entrevista o Presidente da Sociedade Brasileira de Biologia, Medicina Nuclear e Imagem Molecular (SBBMN), o médico José Soares Junior. Ele aponta soluções a curto, médio e longo prazo para a atual crise do molibdênio-99, matéria-prima para a produção do tecnécio-99, principal composto da maioria dos radiofármacos.
A curto prazo, ele sugere um pedido de maior fornecimento de molibdênio-99 por parte de nossa vizinha, a Argentina. Esta é responsável atualmente por 30% das importações brasileiras. Apesar de não ser uma fornecedora usual e ter sua produção voltada para abastecê-la internamente, ela passou a exportar o material depois do pedido da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) – órgão ao qual o Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen, na USP) é subordinado – e um contrato com a Tecnonuclear – empresa argentina - em vigor desde junho de 2009.
Contribuir para o investimento para uma volta ao funcionamento do reator do Peru, que está em ocupação ociosa, também é uma das soluções apontadas por José Soares. Esta, porém, a médio prazo "em um ou dois anos", especifica. Ele acredita que estes investimentos não seriam tão elevados a ponto de prejudicar o implemento do projeto do Reator Multipropósito Brasileiro (RMB), que ele sugere como solução a longo prazo – entre seis e sete anos.
"O Ipen gasta por volta de U$S 20.000.000 anuais na importação de molibdênio-99", afirma o superintendente do instituto, Nilson Dias Vieira Junior. Para a construção do reator, o orçamento seria de U$S 500.000.000, o correspondente ao que se investe em 25 anos de importações. Considerando que um reator com idade variando em torno de 55 anos é considerado velho e que a "construção deste no Brasil abriria um escopo de projetos e pesquisas em cima deste reator", como afirma o médico José Soares, as expectativas são grandes.
O local do novo reator seria em Iperó, cidade do interior do estado de São Paulo, a 130 quilômetros da capital. Há uma área de 1,2 milhões de metros quadrados de terra reservados para a sua construção. Além disso, seria feita uma parceria com a Marinha, que possui seu centro de pesquisa – Aramar - ao lado da cidade. O reator teria entre 20 e 30 megawatts de potência. Para fins de comparação, o reator que existe no Ipen possui apenas cinco megawatts.
Algumas dificuldades além da não-liberação de verba pelo governo, porém, já estão sendo encontradas. "Para a viabilização do projeto, seriam necessárias centenas de pesquisadores designados para ali trabalhar, além de muitos técnicos que saibam fazer a manutenção do reator", afirma o superintendente do Ipen. Além disso, será preciso contratar serviços de engenharia e começar o processo de licenciamento ambiental.