São Paulo (AUN - USP) - Entre os animais presentes na Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ-USP), dois deles são clones: a vaca Bela e o touro Marcolino. Eles são resultado de um projeto de doutorado do Departamento de Reprodução Animal (VRA), coordenado pelo professor José Antonio Visintin. Atualmente, o departamento também investe em outras áreas da biotecnologia, como a transgenia e a pesquisa com células tronco.
Para a realização da clonagem artificial, o processo mais comum é o da transferência nuclear, processo esse utilizado nos projetos da faculdade. O primeiro passo é coletar oócitos (células presentes nos ovários) de alguma fêmea abatida. Para desenvolver um embrião, são coletados de 120 a 150 oócitos. Depois da maturação dessas células, elas passam pela enucleação. Sem o núcleo, o oócito torna-se um “citoplasma receptor”.
Também é preciso obter o DNA do animal que se quer clonar. Esse DNA de interesse é adquirido de fibroblastos (células provenientes, por exemplo, da cauda ou da orelha do animal). É feito um cultivo desses fibroblastos até eles crescerem. Essas células são, então, chamadas de “núcleo doador”. Nesse ponto, as células estão diferenciadas, ou seja, apenas alguns de seus genes estão ativados. Para que elas sejam capazes de dar origem a um embrião, todos os seus genes devem ser ativados (as células devem ser desdiferenciadas). Desse modo, as células devem passar pela privação de soro fetal, que serve de alimento para elas.
Depois disso, as células estão prontas para a reconstrução. Nessa etapa, a célula desdiferenciada fica em contato com o “citoplasma receptor”. Esse conjunto é submetido a um choque, para que as membranas que existem entre essas duas partes desapareçam. Para iniciar o processo de divisão dessa nova célula, é preciso ativá-la. Isso pode ser feito ao introduzir o íon cálcio no meio. Depois de uma semana em cultivo “in vitro”, o embrião é transferido para uma receptora, uma fêmea que será barriga de aluguel.
O avanço científico que ocorreu nas recentes pesquisas não foi a clonagem em si, mas sim a criação de clones oriundos de células diferenciadas, pois os clones de células embrionárias já existem há muitas décadas. A vaca Bela, um dos clones da USP, é o primeiro clone do Brasil originado de células adultas a chegar à vida adulta. Já o touro Marcolino, também da USP, foi o primeiro clone do país oriundo de células fetais. É mais difícil gerar um clone a partir de uma célula adulta, pois essa célula é mais desdiferenciada do que uma célula fetal ou uma célula embrionária.
De acordo com Mayra Elena Assumpção, professora do VRA, a clonagem é “uma ferramenta de estudo fundamental, principalmente da desdiferenciação”. É também interessante para propagar o genoma de animais únicos. A clonagem “é uma técnica que tem um grande potencial, desde que usada direito”, completa. Na faculdade, a técnica da transferência nuclear também foi usada em outros projetos além da clonagem.
Apesar da hipótese de que os clones têm envelhecimento precoce seja falsa, a clonagem envolve algumas dificuldades. As mais comuns são a formação e o desenvolvimento do embrião, o possível acúmulo exagerado de líquido no útero da fêmea receptora e a má formação da placenta. Segundo a professora Mayra Elena Assumpção, “quando a parte comercial está envolvida, há todo um cuidado neonatal”, para que a mortalidade do clone seja reduzida. “Isso tem sido muito bom, pois ajuda a desenvolver a área da neonatologia”, completa. No VRA, as pesquisas nessa área são desenvolvidas pela professora Camila Infantosi Vannucchi.