São Paulo (AUN - USP) - A web pode ser uma forte aliada para a divulgação do conhecimento científico entre as várias universidades da América Latina e para aqueles fora delas também. Esse foi um dos temas discutidos no IV Encontro dos Editores de Revistas Científicas de Psicologia, promovido recentemente pela Associação Brasileira de Editores Científicos de Psicologia (Abecip) no Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (IP - USP).
Com um alcance limitado, as tradicionais revistas acadêmicas produzidas nas universidades não permitem que o conhecimento seja levado a lugares distantes, devido ao alto custo e à pouca praticidade do transporte. Além disso, a difícil armazenagem do papel faz com que muito conhecimento se perca e não seja utilizado. “Ninguém sabia o que fazer com elas [as revistas], o que era trágico, porque os artigos caiam em esquecimento”, conta Wilson López López, professor convidado da Sociedade Brasileira de Psicologia (SBP) e editor da revista Universitas Psychologica, da Pontifica Universidad Javeriana, na Colômbia.
A partir do uso de bases de dados online, porém, a produção das revistas pode ser armazenada na web e ficar disponível para ser acessada por outros pesquisadores e pelo público em geral, ampliando ainda mais a divulgação do conhecimento, antes restrito à comunidade acadêmica. “Permite introduzir a revista a, por exemplo, leitores jovens que não acessariam esse conteúdo antes”, afima López. Atualmente, mais de 150 revistas latino americanas de psicologia podem ser encontradas em quatro sistemas que existem há cerca de cinco anos e se tornaram referências na área: Scopus, Psycoredalyc, Srj e PepSic.
O suporte online permite ainda que vários recursos interativos sejam usados, de forma a complementar o artigo e ampliar a visão do leitor sobre o assunto. “Em uma revista, colocamos o acesso a youtube, para poder acompanhar o artigo escrito com vídeo. Agora temos também um blog, para que as pessoas possam comentar o que lêem”, conta o professor. Mídias sociais, como o site de relacionamentos Facebook e o Twitter, também estão sendo empregadas, com a finalidade de aprimorar a comunicação entre o autor e o leitor.
Dificuldades
Porém, apesar da acessibilidade estar garantida, o professor conta que o conhecimento produzido ainda não está sendo plenamente utilizado por pesquisadores dos diferentes países latino-americanos, com especial crítica ao Brasil, que é o terceiro colocado em número de produções ibero-americanas, perdendo apenas para Espanha e Colômbia. De acordo com ele, o País raramente cita seus pares latino-americanos, dando preferência aos trabalhos desenvolvidos por europeus e norte-americanos.
E isso pode trazer sérios problemas às revistas brasileiras: algumas estrangeiras já não publicam mais os artigos produzidos aqui, pois a falta de reciprocidade não compensa o alto custo da tradução. “A própria gente do Brasil não cita as revistas, não cita seus artigos. Então porque publicar?”. Segundo o professor, os brasileiros deviam encarar seus colegas latino-americanos como aliados também, uma vez que a probabilidade de um artigo brasileiro ser publicado na América Latina é muito maior do que ele sair em países como os EUA ou a Alemanha.