São Paulo (AUN - USP) - Pesquisa, coordenada pela professora Vera Paiva do Instituto de Psicologia da USP e divulgada no 13o. Volume da Revista Psicologia, constatou que 43% dos 250 homens portadores do HIV que foram entrevistados gostariam de ter filhos. Essa taxa cai para menos da metade no grupo feminino. O estudo mostra que, se por um lado os homens estão muito bem informados sobre as práticas de sexo seguro - 85% mantém uma vida sexual ativa -, por outro a desinformação sobre formas de reprodução ainda é muito grande.
O estudo foi realizado com pacientes do Centro de Referência e Treinamento para DST e AIDS da Secretaria de Estado e Saúde de São Paulo e da Casa da AIDS, do Hospital das Clínicas. Apesar de ambos serem considerados centros de excelência no tratamento e prevenção da doença, Vera argumenta que ainda estamos muito longe em oferecer apoio adequado aos portadores do vírus, principalmente em relação à constituição e à estrutura familiar. Muitos profissionais treinados silenciam e ficam paralisados diante da manifestação de um portador em ter filhos. Hoje o risco de a mulher infectar o bebê caiu para 0,8% e existem tratamentos que permitem que o homem tenha filho sem infectar sua parceira soronegativa, eliminando assim qualquer possibilidade de transmitir o vírus ao bebê. Mesmo com todos esses avanços, os casais portadores do HIV são chamados de irresponsáveis quando manifestam a vontade de serem pais.
Vera argumenta que por maior que seja o medo dos profissionais de saúde quanto à gravidade do problema e ao estigma da doença é uma obrigatoriedade ética e constitucional a promoção dos direitos reprodutivos e o desafio do estigma anti-família associado às pessoas que vivem com o HIV. Quando se fala dos direitos reprodutivos dos homens o assunto se torna ainda mais complicado, pois esses não são vistos tradicionalmente como co-responsáveis sobre a dimensão reprodutiva da vida sexual. Um agravante no caso dos portadores do HIV é que eles são freqüentemente associados aos esteriótipos de promiscuidade, como homossexuais, travestis e usuários de drogas. Planejamento familiar ainda é coisa de mulher.
Os avanços técnico-científicos em relação ao cuidado e à prevenção do HIV/AIDS são notáveis. Porém “no caso dos direitos de constituir famílias e ter filhos parece que, como sempre dependeremos da cura do mal maior: do preconceito e da discriminação”.