São Paulo (AUN - USP) - As células-tronco – aquelas que podem formar qualquer outro tipo de célula de um organismo – são incansavelmente estudadas, mas hoje já sem enfrentar tantos problemas éticos. A descoberta da obtenção células-tronco a partir de células humanas adultas, por uma ativação de genes, possibilitou a diminuição do uso de células-tronco embrionárias – prática que esbarra em conflitos éticos por conta da utilização de fetos humanos para pesquisas.
“Tivemos essa descoberta em 2006. No ano passado, nos congressos internacionais, 70% dos estudos mundiais já eram sobre a nova técnica”, afirma Marco Antonio Zago, professor da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da Universidade de São Paulo. Apesar da diminuição, o estudo de células embrionárias não será deixado de lado completamente. “É preciso conhecer a matéria-prima!”, justifica Zago.
Descobriu-se em 2006, na Universidade de Kyoto, no Japão, que era possível obter células-tronco a partir de células humanas adultas, ao se ativar nelas determinados genes. São chamadas células iPS (sigla em inglês para “célula-tronco pluripotente induzida”). A técnica, quando dominada, promete uma medicina personalizada: transplantes e outros tratamentos poderão ser feitos usando tecidos da própria pessoa, diminuindo o risco de rejeição. Na USP, há pesquisas sendo desenvolvidas na FMRP e no Instituto de Ciências Biológicas (ICB).
A nova tecnologia, porém, ainda tem um longo caminho de pesquisas a percorrer até promover a tão sonhada medicina personalizada. O próximo desafio é conseguir que células adultas tornem-se células iPS sem a utilização de retrovírus – atualmente utiliza-se esse tipo de vírus para ativar os genes na célula adulta, o que causa problemas na aplicação posterior.
“Depois disso ainda temos de dominar como diferenciar a célula-tronco da forma correta (seja ela embrionária ou iPS), remover aquelas células que não se diferenciaram, pois esse acúmulo pode causar um câncer. Finalmente, é preciso dominar como inserir essas células da maneira correta no local desejado, fazendo com que elas interajam com o tecido do paciente”, explica Zago.
O professor termina lembrando que as células-tronco não são especificidade nossa. “O ipê amarelo, antes de sua florada máxima, tem os galhos completamente secos. O que o faz reflorir todos os anos, são as células-tronco”.