ISSN 2359-5191

20/05/2010 - Ano: 43 - Edição Nº: 16 - Educação - Escola de Educação Física e Esporte
Estudo mostra descuido com o componente artístico na ginástica olímpica brasileira

São Paulo (AUN - USP) - A ginástica artística, também chamada no Brasil de ginástica olímpica, é a mais conhecida das cinco diferentes modalidades de ginástica definidas pela Federação Internacional de Ginástica (FIG). Apesar do seu nome oficial, o lado artístico da modalidade é muitas vezes deixado em segundo plano. Estudo recente, realizado por Fernanda Regina Pires para sua defesa de mestrado pela Universidade de São Paulo (USP), aponta que, no Brasil, a preparação artística na modalidade, em geral, é desorganizada e recebe atenção inferior à sua importância.

Para a pesquisa foram realizadas doze entrevistas com árbitros e técnicos de ginástica artística com questões abertas sobre conceitos como arte, artístico e estético e como eles são definidos e encontrados na modalidade GA competitiva. Constatou-se uma confusão grande de conceitos. Tanto árbitros como técnicos não entendiam bem a relação de aspectos artísticos na prática da modalidade e às vezes se contradiziam nas respostas.

No caso dos árbitros, o estudo mostrou que seu treinamento não é claro no que se refere à avaliação do componente artístico e constatou que boa parte não se sente preparado para isso. O código de pontuação utiliza-se de termos como estético e artístico, no entanto não os define e nem é preciso na sua forma de aplicação. Consequentemente, a ponderação desses valores fica demasiadamente subjetiva e baseada no gosto pessoal.

Tal situação reflete-se no treinamento e preparação dos próprios atletas. "Atualmente, os ginastas têm um elevado grau técnico e acabam dando muita atenção às acrobacias, possivelmente pelos valores atribuídos a estes elementos acrobáticos e pela dificuldade que os árbitros têm em avaliar o conteúdo artístico das séries", explica Fernanda. Os técnicos, que também apresentam um entendimento limitado dos termos e de sua aplicação no código, acabam negligenciando o elemento artístico em algumas situações. No setor feminino ainda é dada uma atenção um pouco maior, embora de forma desorganizada. No masculino a situação é mais grave, já que atualmente não há treinamento artístico sistematizada, nem um profissional específico para tal.

O resultado é preocupante à medida que o pouco cuidado com o fator artístico no esporte pode prejudicar a preparação do ginasta, bem como sua avaliação, como aponta Fernanda. O componente artístico é um ponto essencial para formação e treinamento do atleta de alto nível, pois contribui para o desenvolvimento da expressão corporal, da postura e para a leveza e estética dos movimentos. "A preparação artística, se bem desenvolvida, pode ampliar e trazer um diferencial motor, rítmico e artístico de maneira geral às séries dos ginastas brasileiros. Digo isso, pois, em alguns países, existe a preocupação com o conteúdo artístico das séries e isso é percebido nas competições internacionais", explica Fernanda. É reconhecido, por exemplo, que fundamentos do balé clássico são indispensáveis na integração da técnica de dança aos movimentos de trave e de solo.

Para reverter essa situação Fernanda destaca duas propostas. Primeiramente, seria importante esclarecer alguns termos presentes no código de pontuação, o que já facilitaria o trabalho de árbitros e técnicos. Além disso, o desenvolvimento de parcerias entre as federações, confederações, técnicos, árbitros e acadêmicos na elaboração de materiais de apoio, pesquisas e cursos referentes ao tema auxiliariam valorização e esclarecimento dos aspectos artísticos dentro da modalidade.

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