ISSN 2359-5191

20/05/2010 - Ano: 43 - Edição Nº: 16 - Educação - Instituto de Psicologia
Psicólogos devem ficar longe de suas questões pessoais

São Paulo (AUN - USP) - A pesquisa na área da psicologia pode ser muito dolorosa para o pesquisador. É o que defende o professor da Clark University e avaliador externo do Instituto de Psicologia da USP Jaan Valsiner. Isso por que ser parte da espécie humana é difícil, amedrontador e problemático. Esses problemas da vida cotidiana criaram a profissão do psicólogo, porém ele mesmo é um ser humano e, logo, objeto de estudo. “Nós estudamos os outros e eles têm problemas. É melhor não estudarmos os nossos problemas, pois podemos descobrir algo que não gostaríamos de ter descoberto”, diz o professor.

O exemplo dado na palestra organizada pelo IEA (Instituto de Estudos Avançados da USP) é de uma psicóloga, de nome não divulgado, que sofrera muito na infância com a separação dos pais, o maior trauma de sua vida. Ao estudar esse assunto, descobriu uma paciente que pensava que a separação de seus pais tinha sido a melhor coisa na vida dela, pois melhorara sua relação com eles. A psicóloga ficou tão abalada por ter toda sua visão de mundo contrariada que não pode continuar com o tratamento da paciente, por ter raiva dela.

Os profissionais da área não devem ter cuidado somente com a relação com si mesmos, mas também com a visão do público “leigo” sobre a psicologia. O professor Valsiner adverte: “No momento que se torna um psicólogo, você possui um poder sobre o outro e sobre você mesmo, e você não sabe bem o que significa esse poder sobre o outro. Então, como jovens psicólogos vocês terão pessoas que dirão: ‘ Você é um psicólogo? Isso quer dizer que você consegue ver através de mim. Eu tenho medo de você.’ Ou pior: ‘ Você é um psicólogo? Então resolva todos os meus problemas.’ Você sabe que não pode resolver todos os seus problemas, mas eles não sabem.” O senso comum tende a pensar “psicólogos nunca erram” . Deve-se lutar contra essa visão, por ser extremamente prejudicial à sociedade, por não discutir temas e equívocos que acabam por afetar a todos.

O professor também fala sobre como os estudos em psicologia podem ser perigosos quando se tornam socialmente relevantes. Um exemplo é a Experiência de Milgram, realizada pelo psicólogo norte-americano Stanley Milgram. Para demonstrar a obediência à autoridade, Milgram colocava um voluntário em uma falsa máquina de infligir choques. Os “choques” eram destinados a um senhor inocente, deveriam ser infligidos cada vez que ele desse alguma resposta errada e iriam gradualmente aumentando de intensidade. O resultado do experimento foi que mesmo com o visível sofrimento do senhor, as pessoas continuavam a aplicar os choques, simplesmente por que foram mandadas a fazê-lo. As conclusões desses estudos chocaram a sociedade americana. Pensar que cidadãos americanos, amantes da paz, aplicavam choques a pessoas inocentes simplesmente era inaceitável. Por isso que Jaan Valsiner diz: “Existe um limite para o que pode ser estudado, que tipo de conclusões podem ser encontradas. Enquanto uma ciência é irrelevante socialmente, pode-se estudar praticamente qualquer coisa. Mas no momento que se torna relevante para as preocupações humanas e sociais, a pessoa está muito próxima do concreto, o que se torna perigoso para o sistema social. Você vê que isso importa, e exatamente por que importa que é perigoso”.

Outro engano comum que os alunos devem tentar superar é o entendimento de que o conhecimento se desenvolve somente na sala de aula. Por mais que se aprenda muito com o que é estudado na faculdade, os objetos de estudo, as experiências e a formação da identidade profissional só podem ser alcançados no espaço externo à classe, no “mundo real”. O problema é que cada vez mais se encontram laboratórios que possuem somente pesquisadores, mas nenhum humano como objeto de estudo, o que é a essência da psicologia. Esses profissionais acabam por ter contatos somente com as mesmas ideias e correntes de pensamento, não existindo espaço para novas descobertas.

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