São Paulo (AUN - USP) - A psicologia não surgiu com a fundação do primeiro Laboratório de Investigação Psicológica, ao contrário do que é ensinado em praticamente todos os institutos do mundo, segundo o professor estoniano Jaan Valsiner. Em uma palestra em inglês realizada no Instituto de Psicologia da USP, o professor negou que Wilhelm Wundt, fundador do laboratório, fosse o pai da psicologia. “A psicologia não nasceu em nenhum único ano. Nem em 1879 ou nenhum outro. Não foi criada por nenhum único homem, especialmente não por este (Wundt). O que temos que nos perguntar é por que isso é repetido em todo o contexto institucional? Por que ficamos como papagaios repetindo que a psicologia nasceu em 1879?”
Na visão do professor da Clark University, Wundt não poderia ter sido o fundador da ciência, já que o estabelecimento do primeiro laboratório foi um evento muito tardio no desenvolvimento da psicologia. A primeira palestra do curso, por exemplo, foi ministrada em 1806. Visava o estudo de como os sistemas sociais funcionam e são coordenados. Outro filósofo importante no ramo foi Hermman Lotze, especialmente com a publicação de seu livro “Medicinische Psychologie oder Physiologie der Seele”, em 1852. “Lotze não é para servir de substituto. Eu não vou dizer que a psicologia não nasceu em 1879 por que nasceu em 1852. Estou simplesmente dizendo que durante seu desenvolvimento houve alguns momentos específicos.”
Datas não importam, segundo Jaan, já é necessário praticamente um século para uma ciência nascer. No caso da psicologia levou praticamente de 1806 ao fim do século XIX. Além de tudo, a ciência nasceu no meio de um campo de batalha de uma luta que existe até hoje, entre objetividade/materialismo e subjetividade/idealismo, principalmente no que se diz respeito de trazer novos métodos para a investigação psicológica.
Nesse quase um século de “nascimento” foram encontrados desafios no sentido da psicologia ser uma ciência ambígua: não conseguia ser classificada como natural nem teológica. No meio do século XIX, com a implantação de uma objetividade mecânica em todas as ciências alemãs, a psicologia, considerada “ciência da alma” ficou em uma situação muito complicada. A solução foi classificá-la como “ciência natural espiritual”. O dilema só ia ser resolvido em 1890, com a declaração definitiva de “ciência natural da mente”.