São Paulo (AUN - USP) - A construção de um Reator Multipropósito Brasileiro (RMB) foi definida no encontro "Rumo a 2022: desafios estratégicos para o programa nuclear brasileiro", realizado em 30 de março de 2010 em Brasília, como uma das prioridades estratégicas brasileiras no futuro de nosso programa nuclear. "Existe um consenso nacional de que é um projeto importante, daqueles que a sociedade lucra com ele. E ele vai em frente por isso, a sociedade demonstra que ele é importante", afirma o coordenador técnico do Empreendimento Reator Multipropósito Brasileiro, José Augusto Perrotta, do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen, na USP).
O Reator Multipropósito, será útil em diversas aplicações para a comunidade científica nacional - criando um "laboratório nacional para pesquisas genéricas", como cita Perrotta - e ainda produzirá radioisótopos, utilizados em 80% dos diagnósticos em medicinas onco e cardiológica do país. Além disso, poderá ser aplicado na produção de materiais, com a técnica de utilização de feixes de nêutrons; em testes de combustíveis e materiais; e, um dos grandes passos para o país, a autossuficiência no processo produtivo do urânio, composto do combustível nuclear.
O Brasil é um dos poucos países que dominam toda a tecnologia do ciclo do combustível nuclear e também possuem urânio. Com 6% das reservas mundiais, ele é o sexto no ranking das reservas de urânio no mundo. As reservas brasileiras conhecidas somam 300 mil toneladas prognosticadas e se especula que existam na verdade 500 mil toneladas de urânio. Assim, o país tem um grande potencial a ser explorado.
O Ciclo do Combustível Nuclear é um conjunto de processos industriais que convertem o urânio em combustível nuclear para produção de energia. O urânio é extraído nas áreas de mineração – no Brasil, são principalmente as de Caetié, na Bahia, e a de Santa Quitéria, no Ceará –, dele se forma uma massa chamada "Yellow Cake" e, após, é convertida em UF6 (Hexafluoreto de Urânio). Depois, o urânio é enriquecido, reconvertido para UO2 (Dióxido de Urânio) em pó e com ele são feitas pastilhas. A partir daí, é fabricado o elemento combustível para geração de energia elétrica. A parte do processo que não é feita no Brasil é a conversão do Yellow Cake em UF6. O primeiro é mandado para o Canadá e convertido. Seu produto, o UF6, é então reenviado para o país. Com o RMB, isto não será mais necessário.
Segundo José Augusto Perrotta, o Brasil apresenta todas as condições para possuir um reator de tal porte e crescer em energia nuclear. Ele possui duas usinas nucleares em funcionamento e uma em construção, uma estrutura organizacional para operação e fiscalização do setor, e projetos de acondicionamento de rejeitos radioativos. Além disso, o Plano de Energia 2030 prevê a construção de mais quatro usinas nucleares, que necessitarão de combustível para funcionarem.
A previsão de gastos do projeto de base para construção do Reator Multipropósito está estimada em US$ 500.000. Perrotta acredita ser um investimento de peso para o país, que produzirá benefícios sociais e que possui um papel importante na formação de recursos humanos. Formação esta alcançada através das pesquisas que se formarão em torno do RMB. "Para ser grande, tem que pensar grande. Para desenvolver grande, tem que gastar grande", justifica.