São Paulo (AUN - USP) - Contra aquela usual postura de que “não há nada que se possa fazer” contra o zumbido, assim se coloca Tanit Ganz Sanchez, chefe do grupo de pesquisa em zumbido do Hospital das Clínicas. Em seminário realizado recentemente na Faculdade de Medicina da USP, a doutora afirmou que “o zumbido tem cura, sim” e ainda revelou que a origem do problema pode não estar no ouvido: “O zumbido funciona como um sensor fino da saúde de vários outros órgãos”. Dietas alimentares incorretas, estresse e rotinas desgastantes, dores musculares, alterações na tireóide, nos sistemas digestivo, circulatório e neurológico, além de problemas no próprio aparelho auditivo, são alguns dos fatores que podem gerar o incômodo.
Segundo a médica, só no Brasil, existe cerca de 28 milhões de pessoas com zumbido e, entre os idosos, a proporção é de um em cada três. O “zumbido é mais comum do que asma, diabete ou a própria perda de audição”, revela. Portanto, longe de ser um problema raro, o tratamento é complicado porque se trata de algo “invisível”. A única forma de diagnóstico que se tem são as queixas do paciente, por isso é fundamental que o médico “olhe a pessoa como um todo, e não só como uma orelha”, afirma Sanchez, procurando no corpo inteiro a origem desse mal.
Para cada suspeita, uma sentença
Para cada causa do zumbido, há um respectivo tratamento. E a dúvida mais freqüente é, entre tantas possibilidades, onde começar a procurar? O exame de audiometria será sempre o primeiro teste e, se constatada a sua normalidade, a análise dos hábitos e histórico do paciente definirá o rumo do tratamento. Dietas alimentares inadequadas, como a ingestão de grande quantidade de cafeína e açúcar e jejum prolongado, podem provocar o zumbido. Portanto, se o paciente diz que toma café inúmeras vezes por dia, a suspeita mais natural é de uma alteração no metabolismo. Nesse caso, é necessário uma “prova terapêutica”, ou seja, ele deverá reduzir essa quantidade por um determinado período de tempo. Se houver a constatação de melhora, a causa (ou uma delas) foi descoberta.
As dores que se originam num lugar, mas também refletem em outro – chamadas somatossensoriais – são outras possíveis origens do zumbido. Suspeita-se disso quando a pessoa tem um histórico de trauma de cabeça ou pescoço, manipulação dentária ou mesmo massagens e exercícios físicos realizados de forma indevida. Um indicador desse caso é se o exame de audiometria apontar que os dois ouvidos estão iguais, mas somente em um o paciente reclama do zumbido. Em muitas pessoas existem pontos bem definidos de dor nos músculos (pontos-gatilho), principalmente no pescoço e na cabeça, que quando pressionados irradiam essa dor imediatamente para outras partes do corpo, incluindo o ouvido. Essa é uma característica da síndrome dolorosa miofascial e, em casos como esse, a fisioterapia é a melhor indicação, pois ajuda a diminuir tanto a intensidade do zumbido e da dor, bem como o número de pontos – gatilho.
Os “zumbidos recentes” – com menos de um ano – também precisam ser tratados e “quanto antes, melhor”, adverte Sanchez. Em casos de lesão no ouvido (seja por exposição a ambientes muito barulhentos, acidentes domésticos, etc) há sempre uma mudança em como o cérebro reconhece os impulsos elétricos que interpretamos como “som”. O problema é que quanto mais o tempo passa, maior é essa transformação e o zumbido pode se agravar. O tratamento medicamentoso é a melhor alternativa e 50% dos pacientes melhoram significativamente. Quando esse ruído no ouvido é acompanhado de perda auditiva (90 a 92% dos casos), o uso de aparelhos auditivos, isto é, a protetização, é o mais indicado. Apesar do preconceito que existe contra esse método, não é para esperar a perda de audição piorar para usá-lo. “Aparelho é uma ótima opção, e não a última”, diz a médica.
Para pessoas sem perda auditiva, uma técnica para melhorar o zumbido é a do enriquecimento sonoro. O paciente deve colocar um som suave e dormir a noite inteira com ele, somente retirando-o de manhã. Esse processo estimula a via auditiva e a melhora é muito grande, mas leva de seis a doze meses. Além disso, a médica também indica tratamentos como acupuntura, psicoterapia, hipnose, entre outros. Todas as abordagens têm seu mérito no combate ao zumbido, exceto uma: a desistência. Tanit Ganz Sanchez diz que é preciso acabar com essa cultura de que esse problema não tem solução, inclusive entre os próprios otorrinolaringologistas. “Quando o paciente vai até o médico especializado e ouve dele que não há nada que se possa fazer, a repercussão é muito grande”, revela. Ela acredita que há, sim, uma cura para cada subgrupo de zumbido. O que se deve fazer é, entre um ruído e outro, nunca desistir de procurá-la.