São Paulo (AUN - USP) - Estado emocional, relações interpessoais, motivação e produtividade influenciam e são influenciados pelo desempenho esportivo – tanto do próprio sujeito da prática esportiva quanto daquele que apenas torce. Isso é o que revela a pesquisa realizada pelo professor Antônio Carlos Simões, do Departamento de Esportes da Faculdade de Educação Física da USP.
Os profissionais do esporte de hoje são protagonistas de um show: o espetáculo do esporte. Segundo revela a pesquisa do professor Simões, o esporte de hoje pode ser analisado como uma instituição social na qual o que vale é o custo/beneficio do atleta no show. Aquele que não traz retorno ao investidor (clube, federação etc.) é colocado de lado e substituído por outro que dê maior retorno.
Por serem tão centrais, “os atletas se vêem constantemente sobre extrema pressão”, avalia Simões. “Esta pressão afeta as variáveis do humor básico da pessoa”, que são as relações afetivas, a produtividade, a aceitação sócio-cultural e o organismo. Esses fatores formam um ciclo, de forma que um chega a afetar todos os outros. A pressão exercida, por exemplo, pelo torcedor no jogador de futebol, pode causar uma crise de auto-estima, que abaixa a produtividade do atleta. Na seqüência, ele passa a ser rejeitado pela sociedade ao seu redor – já que não traz mais resultados. Com isso, inclusive seu organismo é afetado. Portanto, críticas, elogios, opiniões de torcedores, jornalistas, amigos influenciam o desempenho esportivo do jogador.
Tudo isso leva o atleta do espetáculo a se tornar cada vez mais narcisista. Um bom exemplo disso é a briga ocorrida no Corinthians no fim de 2001, entre Marcelinho Carioca e Ricardinho: um choque de narcisistas. Disputando a liderança do grupo e as atenções da imprensa, os dois passaram a alfinetar-se em público até que Marcelinho acabou fora do clube.
O esporte enquanto fenômeno social é universal. Em todas as culturas do mundo é desenvolvida alguma prática esportiva e, junto com ela, surge a figura do torcedor.
O torcedor passa pelo mesmo processo de influência no humor que o atleta, mas em sentido inverso: os resultados da equipe ou atleta para quem torce dão o tom de seu humor, motivação etc. após as disputas.
Esse fenômeno está ligado a uma identificação da pessoa com o clube, no plano social, ou com o atleta, no plano individual. Nessa identificação, não há classe social ou restrição: “o torcedor se projeta no atleta” e isso gera nele toda a gama de reações psicossociais, tais como a raiva que o faz arremessar um chinelo no bandeirinha ou o mau-humor estampado em seu rosto no dia seguinte a uma derrota para o rival.