São Paulo (AUN - USP) - Porções gigantes, outdoors de propaganda alimentícia e reuniões de negócios durante refeições, são apelos do meio obesogênico em que vivemos que promovem o consumo de comida e o retorno dos quilos a mais. Esta á uma das conclusões da dissertação de mestrado: “Representações sociais na manutenção do peso corporal”, da nutricionista Andréia Elena Moutinho, defendida na Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo. A nutricionista ressalta que, as pessoas que não voltaram ao peso que apresentavam antes de emagrecer, relataram estarem cientes do meio obesogênico em que vivem. Já os indivíduos que recuperaram o peso não têm consciência deste apelo tão forte, e acabam cedendo às armadilhas do meio.
Chamada popularmente “efeito sanfona”, a recuperação do peso é cada vez mais comum. O estudo das possíveis causas deste fato e a preocupação em se descobrir meios para a manutenção do peso desejado são os objetivos desta dissertação. Para entender as causas da recuperação do peso, a nutricionista realizou um estudo com dois grupos: um de 21 pessoas que, após várias tentativas, conseguiram manter seu peso após pelo menos 18 meses desde o último emagrecimento e, um grupo de 19 pessoas que não tiveram o mesmo sucesso e voltaram a engordar. Com cada grupo, foi realizada uma pesquisa que discorria sobre as dificuldades encontradas na manutenção do peso. Após realizar as entrevistas, Andréia coletou frases comuns presentes nos discursos de cada grupo, os “fragmentos de discurso”.
A coleta de fragmentos de discurso serviu para que se chegasse às representações sociais inerentes às pessoas que não recuperaram o peso: “Quando várias pessoas de um mesmo grupo (no caso, o controle do peso é o ponto em comum) falam sobre o determinado tema proposto, elas formam um discurso coletivo, ou seja, reúnem as idéias principais deste grupo. Após todos os discursos terem sido cuidadosamente formatados, nossa pesquisa foi mais além do que a proposta inicial: discutir todos os discursos e de que maneira eles se apóiam no cotidiano das pessoas e realidade da literatura científica atual”, disse a pesquisadora Andréia Moutinho.
Pacientes que não enxergam a necessidade de se mudar hábitos alimentares de modo contínuo, envolvem-se somente em métodos rápidos e temporários de emagrecimento e que vêem a manutenção do peso como um sacrifício, pertencem ao conjunto de indivíduos que voltam a engordar. Já os pacientes que entendem o emagrecimento como um processo contínuo e que conseguem estabelecer estratégias para conviver em um ambiente propício à engorda, têm sucesso em manter o peso ideal.
Para a nutricionista, é preciso que se utilizem métodos de emagrecimento que estimulem a autonomia do paciente. Ele deve compreender aspectos subjetivos do consumo alimentar para poder armar estratégias contra este ambiente obesogênico em que vivemos, e não se manter passivo diante de produtos e dietas temporárias que emagrecem, mas não promovem a sustentação do peso.
Para observar essas armadilhas do meio é necessário ter representações sociais que permitam isso. Por isso o estudo é necessário para conhecer tais representações a fim de que as propostas de intervenção para controle do peso sejam mais promissoras na fase pós-perda, ou seja, uma redução sustentada do peso, que é o que realmente provoca benefícios à saúde.