ISSN 2359-5191

21/03/2003 - Ano: 36 - Edição Nº: 01 - Ciência e Tecnologia - Instituto de Física
Pesquisador fala sobre cristalografia e origem do DNA

São Paulo (AUN - USP) - O professor norte-americano William Duax, presidente da União Internacional de Cristalografia, falou sobre sua pesquisa na área de cristalografia de proteínas em colóquio realizado no Auditório Abrahão de Moraes na última quinta-feira. O colóquio faz parte de uma série que acontece todas as quintas-feiras, sobre temas diversos, sob coordenação do professor Mahir Hussein, presidente da Comissão de Pesquisa do Instituto de Física - IF.

O professor Duax destacou em sua fala a importância de sua pesquisa para entender a origem e a evolução do código genético, expresso nas moléculas de DNA. O pesquisador trabalhou durante 15 anos determinando a estrutura de proteínas de uma mesma família por cristalografia. Esta técnica consiste em determinar a estrutura de uma molécula pelo modo como a radiação é espalhada ao se chocar contra ela.

Toda proteína, além de ser uma sequência de aminoácidos, se dobra sobre si mesma várias vezes, formando uma macromolécula tridimensional. Quando se conhece a estrutura de uma dada proteína, é possível conhecer as estruturas de todas as outras proteínas que sejam 30% semelhantes a ela, pois todas se dobram quase do mesmo jeito.

O DNA de um organismo codifica, usando as bases nitrogenadas adenina (A), timina (T), guanina (G) e citosina (C), a sequência de aminoácidos das proteínas produzidas, por meio de uma molécula intermediária (RNA) que serve de “molde” para a proteína. Deste modo, após análise e sequenciamento do código genético de uma espécie, é possível entender melhor a estrutura e função das proteínas produzidas por esta espécie, sem que cada uma tenha que ser analisada por cristalografia, o que pode demorar até cinco anos para cada molécula.

Durante sua pesquisa, o professor Duax descobriu que algumas espécies de bactérias usam mais as bases nitrogenadas G e C na codificação de certas proteínas, pois estas bases são fisicamente mais estáveis que A e T. Isso sugere que as bactérias começaram a produzir estas proteínas antes que o sistema de codificação estivesse totalmente “pronto”. Além disso, já era sabido que algumas espécies codificam aminoácidos de modo diferente que outras, o que mostra que o código do DNA não é universal, como se acreditava.

A pesquisa aponta uma nova tendência no estudo do genoma, com foco nas proteínas e seu funcionamento. O pesquisador destaca também a importância da cooperação entre físicos e bioquímicos nessa área. Segundo a professora Rosângela Itri, do Laboratório de Cristalografia do Instituto de Física, este laboratório trabalha só com cristalografia de materiais, por enquanto, mas a cristalografia de proteínas e outras moléculas orgânicas pode vir a ser feita no futuro. Segundo ela, a pesquisa do professor Duax pode trazer “uma revolução ao campo da bioquímica” se suas teses forem provadas.

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