ISSN 2359-5191

21/03/2003 - Ano: 36 - Edição Nº: 01 - Saúde - Faculdade de Medicina
Células do doador no receptor reduzem rejeição em transplantes

São Paulo (AUN - USP) - Realizar uma infusão de células do doador de órgãos no organismo receptor, antes da cirurgia, é uma das formas de diminuir as taxas de rejeição nos transplantes. Descobrir quais células podem ensinar ao receptor ter maior tolerância ao órgão transplantado é o objetivo de uma das linhas de pesquisa do cirurgião Flávio Henrique Ferreira Galvão, da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.

Flávio faz pesquisas com transplantes desde 1989 e pretende, com os resultados deste experimento, reduzir o número de medicamentos que o paciente deve tomar após a intervenção cirúrgica. Depois do transplante o receptor precisa tomar uma quantidade muito grande de remédios altamente tóxicos, para combater a rejeição e, a partir de uma maior tolerância imunológica, que seria alcançada com essa infusão de células, o número de drogas seria reduzido, permitindo ao paciente uma sobrevida mais longa e menor debilidade ao organismo.

Todas as pessoas possuem certo grau de autotolerância imunológica a células de outros seres, mas isso não é suficiente para que em casos de transplante o órgão seja aceito sem uma reação imunológica forte. Essas reações, principalmente a rejeição, acabam, em muitos casos, causando a morte do paciente, pois suas células de defesa destroem o órgão transplantado.

A especialidade do pesquisador é o intestino delgado. O intestino humano, nas palavras de Flávio “o ecossistema mais complexo que existe”, é um órgão muito imunogênico, que possui alto grau de rejeição a células de outros seres. Graves infecções decorrentes da absorção de bactérias intestinais são comuns em transplantes de intestino. Por esse motivo a sobrevida das pessoas submetidas a esse tipo de intervenção cirúrgica é tão curta. Cerca de 700 pessoas já passaram por essa cirurgia em todo o mundo, mas sua indicação clínica ainda está em caráter experimental.

Um laboratório com tecnologia de ponta está sendo montado por Flávio, com supervisão de outros pesquisadores, no Departamento de Transplantes de Fígado da Faculdade de Medicina da USP, para a realização de cirurgias e microcirurgias em animais de experimentação. Um sistema de fluxo de ar filtra partículas de até 0,3 micra, impedindo que elas propaguem infecções. A temperatura, a pressão e a umidade de cada uma das salas do laboratório são controladas, criando um ambiente de ar limpo, propício para a manutenção de ratos geneticamente idênticos (isogênicos). Essas cobaias são ideais para a realização desses experimentos, pois promovem respostas imunológicas uniformes. Infelizmente esse tipo de animal ainda não existe no Brasil, mas projetos já estão em andamento no biotério da FMUSP. Atualmente as pesquisas são feitas, em sua maioria, com ratos não isogênicos.

Flávio afirma que algumas dessas células, que podem reduzir a rejeição, já foram descobertas, mas suas funções ainda são pouco conhecidas. Mecanismos para induzir maior tolerância continuam sendo motivo de pesquisa em todo o mundo. Interesses político-econômicos, no entanto, dificultam um avanço mais acelerado das pesquisas. “Pesquisa é uma coisa que ainda é colocada em segundo plano no nosso país”, finaliza o pesquisador.

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