São Paulo (AUN - USP) - A necessidade de identificar os alimentos transgênicos, que no Brasil como em outros países do mundo, estão sofrendo severas restrições, tem se tornado essencial. Uma iniciativa nessa direção é a pesquisa que será iniciada no próximo mês pelo Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen). O projeto de autoria da professora Anna Lucia Villavicencio é financiado pela Fapesp e pretende descobrir se os alimentos transgênicos após serem irradiados ainda poderão ser identificados. Trabalha-se com a hipótese de que uma eventual ruptura da molécula de DNA dos transgênicos, após o tratamento por radiação, tornaria inviável sua detecção.
A irradiação de alimentos é um processo de tratamento de alimentos através de sua exposição, previamente embalados dentro de containeres, a determinadas quantidades do mesmo tipo de radiação que está presente na luz e nos aparelhos de TV (radiação ionizante) por um tempo específico. Ela é utilizada para eliminar microorganismos patogênicos, descontaminar especiarias, acabar com infestações de insetos em grãos e aumentar o tempo de armazenamento dos alimentos.
Apesar de ser uma tecnologia pouco conhecida pelas pessoas, ela não é nenhuma novidade. Desde 1973, há no Brasil uma legislação específica para tratar da produção, transporte, comercialização, importação, exportação, exposição e rotulagem de alimentos irradiados. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), a União Européia e a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) defendem o uso da irradiação de alimentos. Entretanto, existem grupos, em sua maioria organizações não governamentais, que se opõem a essa tecnologia. A irradiação de alimentos com propósito comercial já atinge mais de 30 países, grande parte das especiarias no Brasil, por exemplo, estão sendo irradiadas em vez de serem fumegadas por produtos químicos. No entanto, o volume de alimentos irradiados no comércio mundial é considerado baixo.
O procedimento para identificar um transgênico é relativamente simples. O alimento transgênico tem sua molécula de DNA alterada pela adição ou subtração de genes. Os laboratórios que produzem os alimentos geneticamente modificados informam aos pesquisadores a estrutura de uma pequena seqüência de DNA chamada primer. Com essa seqüência, é possível identificar o trecho do DNA do alimento que foi modificado. O primer bordeia a informação genética que foi inserida e a multiplica. Para verificar se um alimento é transgênico, então, analisa-se o DNA do alimento inspecionado com o primer específico. Caso o alimento realmente seja trasgênico, haverá a multiplicação da seqüência genética que foi inserida.
A pesquisadora Anna Lucia Villavicencio e sua equipe trabalham com a possibilidade de a irradiação ser capaz de romper a molécula de DNA dos alimentos trasgênicos e de haver uma recombinação genética logo após, ou seja, uma nova combinação genética ocorrida pela troca de pedaços entre cromossomos. Assim, a identificação dos transgênicos ficaria impossibilitada, porque a seqüência da molécula de DNA do alimento teria sido alterada. Essa possibilidade será posta a prova com diferentes doses de radiação e períodos de armazenagem. A pesquisa deverá ser concluída em dois anos.