São Paulo (AUN - USP) - No momento de luto, os psicólogos devem fazer a intermediação entre os que sofrem uma perda e os que morrem, segundo o professor do Instituto de Psicologia (IP) da USP, Geraldo José de Paiva. “Quando a pessoa recebe uma informação dessas, chocante e desnorteante, ela fica tão perdida que, se não tiver alguém para apontar cognitivamente, afetivamente, em termos assim de desenvolver certas atitudes da pessoa, se sentirá muito sozinha”. O assunto foi discutido em um debate sobre o filme Hanami- Cerejeiras em flor, organizado pelo Laboratório de Estudos sobre a Morte (LEM) do IP.
O filme alemão de 2008, de Doris Dorrie, trata da história de um homem que ignora que tem uma doença terminal. Sua mulher é a única que sabe da gravidade do caso e decide convencer o marido a fazer uma última viagem ao Japão. A história muda quando a esposa morre, deixando o marido com a dor do luto e a decisão do que fazer após sua perda.
No debate, foram abordados os diferentes tipos de luto. A personagem feminina, Trudi, precisa lidar com o chamado “luto antecipado”, sentimento de quando se sabe que uma pessoa não tem muito tempo de vida. No seu caso, a atuação dos médicos é de fundamental importância. Eles dão uma direção, no sentido de que “eles façam algo juntos, como realizar um velho sonho”, para assim sentir que ele aproveitou seus últimos dias. Já o marido, Rudi sofre o “luto real” com a perda inesperada de sua amada. No seu caso, a amiga de sua filha serve como uma ponte entre ele e sua mulher, para que possa enxergá-la de maneira diferente e, após sua morte, perceber o quanto a amava.
A questão da morte, tão presente no filme, é apresentada como algo que conserva seu impacto inevitável, alguma coisa que sempre nos causa perplexidade. A perda de uma pessoa próxima é trabalhada de diferentes maneiras pelos personagens do filme, mas a grande linha de contato é a visão de como essa perda pode gerar um estado de união mais íntimo entre as pessoas que sofrem. O aspecto religioso é pouco discutido no filme, mas é possível perceber a noção de que, mesmo em religiões tão diferentes como o Budismo e o Catolicismo, a noção de que as pessoas continuam vivas de algum modo, que a morte não é definitiva, está sempre presente.
Outra linha de discussão levantada pelo filme é o desgaste da relação entre pais e filhos com o crescimento dos filhos. Segundo Geraldo José, a saída dos filhos de casa pode ser considerada um “luto”, pois se trata de uma perda muito dolorosa e difícil para os pais. Com o passar dos anos, essa relação se torna atritante, os pais passam a representar um peso para os filhos, o que gera muita dor. “Sobretudo hoje em dia, em que, apesar de toda a facilitação tecnológica, nós temos cada vez menos tempo para as pessoas. O computador, que facilita tanto o nosso trabalho, é aquele que nos prende a novas obrigações.”