São Paulo (AUN - USP) - Não há uma receita certa para incentivar uma criança a ler, o que representa um desafio para muitos pais. Mas há algo que não deve ser feito: obrigá-la a ler. Foi esse o aviso de Tatiana Belinky e Cláudio Fragata, autores de histórias infantis, na mesa redonda “Diálogos com Tatiana Belinky e Cláudio Fragata”, realizada recentemente no Instituto de Psicologia (IP) da USP.
Curiosas por natureza, as crianças preferem entrar em contato com o mundo ao seu redor de uma forma espontânea, sem o peso de uma obrigação. “Porque a criança não gosta de estudar? Ela gosta de aprender. Aprender é ver o mundo, a vida, todos os dias”, diz Tatiana.
Por isso, muito mais eficiente do que cobrar a leitura, é expor a criança a ela, levando-a em livrarias e bibliotecas e, principalmente, mantendo livros em casa: “Tire esse dedo da frente. Não mande. Se ela vir um livro na mesa, ela vai abrir, ela vai se interessar”, afirma Tatiana. Cláudio concorda, ressaltando a essa liberdade que a criança deve ter para ir atrás do livro: “Os livros estão aí, e esse gostar de ler tem que começar assim sem querer. O livro tem que chamar a criança”.
E o papel dos pais é essencial nesse processo, pois eles são um forte exemplo na vida dos filhos, especialmente nos primeiros anos de vida. Segundo Cláudio, muitas das queixas sobre falta de interesse dos filhos nos livros são feitas por pais que não lêem. “É muito importante essa vivência da leitura”, afirma. Ele conta que, quando jovem, foi muito incentivado por seu pai, um ávido leitor. “Os livros estavam sempre presentes na minha vida”.
Sobre a internet, que tem sido apontada por críticos como uma razão da diminuição da leitura pelas crianças, Cláudio mostra-se seguro, afirmando que o gosto de ler não vai morrer por causa do mundo digital. Pelo contrário, a internet, com suas conversas feitas por intermédio de redes como o MSN e o Orkut, pode ser uma boa aliada para incentivar a leitura. “Acho que a internet tem sido um estímulo muito grande, porque exige que as pessoas se comuniquem pela palavra”.
Os escritores ressaltaram ainda a importância da literatura como fonte de conhecimento e fator transformador. “Literatura te abre a cabeça, o mundo. Te dá uma vista panorâmica”, diz Tatiana. Cláudio acrescenta: “A gente não escreve com a intenção de mudar ninguém, mas eu acho que a literatura pode sim tocar as pessoas de tal maneira que elas mudem suas vidas”.