São Paulo (AUN - USP) - A ligação entre o contato precoce com álcool e dependência química está cada vez mais clara em diversos estudos. Pesquisas do Instituto de Ciências Biomédicas da USP, lideradas pela professora Rosana Camarini, procuram expor em várias vias como esse consumo na adolescência pode condicionar não só uma propensão maior que um adulto a desenvolver o vício como até mudanças no cérebro.
Uma primeira fase dos experimentos, envolveu injetar álcool em camundongos adolescentes e em adultos em mesmas quantidades. Após um tempo não administrando mais a droga, foram oferecidos um bebedouro com água e um com uma solução etílica, dando escolha ao animal. Numa etapa final, as cobaias foram deixadas um tempo sem a substância (dando um período de abstinência) e depois os dois tipos de bebedouros retornaram.
Com essa série de testes, comprovou-se que os animais que receberam o estímulo na adolescência se tornavam dependentes mais rápido e tinham recaídas mais sérias (com maior quantidade de álcool no total de líquido consumido) após os períodos de retirada da bebida. O fator de recompensa (que sinaliza ao corpo que determinada situação é prazerosa) também diferiu nos dois casos. A tolerância à droga (queda na recompensa) foi muito mais rápida nos animais que consumiram-na mais novos, fazendo que em pouco tempo a cobaia precisasse de muito mais para obter os mesmos efeitos do início.
As mudanças no indivíduo podem ser até mais profundas, a exposição continuada ao álcool pode alterar a formação do cérebro jovem. “Dos 12 aos 18 anos (em média), várias estruturas cerebrais se remodelam, preparando-se para a fase adulta. Tudo indica que o uso de drogas pode causar mudanças nessa modelação a nível neuro-anatômico e também químico” disse Rosana.