ISSN 2359-5191

04/06/2010 - Ano: 43 - Edição Nº: 24 - Educação - Faculdade de Saúde Pública
Bem-estar dos moradores de asilos está relacionado à alimentação

São Paulo (AUN - USP) - Durante o ciclo da mineração, os habitantes de Minas Gerais raramente comiam carne bovina. Não só pelo aspecto geográfico da região mineradora, com terrenos íngremes difíceis para a pecuária, mas também porque os lucros da atividade exploradora ficavam com Portugal e a população local não tinha dinheiro para adotar carne de vaca como alimento diário. Consequentemente, os pratos mais tradicionais desta região são feitos com galinha e porco, animais de fácil e barata criação.

Por isso, quando os idosos da região de Lago de Furnas, sul de Minas Gerais, pensam nos alimentos mais tradicionais relacionados à fase adulta, vêm à cabeça pratos preparados com carne de porco ou frango. A continuidade entre esta lembrança e aquilo que lhes é servido no dia a dia das instituições de longa permanência, conhecidas popularmente como asilos, onde vivem, é fundamental para seu bem estar. E foi pensando nisso que a professora doutora Pauliana de Carvalho Noronha defendeu recentemente a tese de Doutorado “As instituições de longa permanência para idosos em pequenos centros urbanos mineiros: práticas e costumes alimentares” na Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP.

O tema começou a ser estudado no Mestrado, sob orientação da professora Midori Ishii que sugeriu a pesquisadora que estudasse nutrição dentro de uma perspectiva cultural da região onde vivia sua família. O objetivo da pesquisa era entrevistar os idosos que moravam em asilos e verificar se a lembrança culinária de antes correspondia à comida que lhes é servida no presente.

No Mestrado, a cidade escolhida foi Carmo do Rio Claro, com cerca de 20 mil habitantes, a 75 km de Alfenas. A instituição pesquisada foi o asilo Frederico Ozanam, da Sociedade São Vicente de Paulo. Neste período, a professora observou que os alimentos correspondiam às lembranças dos idosos, e que isso contribuía para a qualidade de vida, à medida que representava uma continuidade com o que já comiam antes de morar no asilo.

Em metrópoles como São Paulo, quando o idoso vai para uma instituição se desliga do universo social que tinha antes. Em cidades menores, essa ruptura com o cotidiano anterior não é tão brusca, por que pessoas já se conhecem, há uma cultura comunitária compartilhada, e o idoso permanece membro desta comunidade mesmo dentro da instituição.

Inclusive pode-se dizer que, de certa forma, as instituições da região fazem algo que os asilos “cinco estrelas” das cidades maiores buscam fazer atualmente, isto é, atender perspectivas individuais para diminuir as diferenças entre o antes e o depois da entrada no asilo.

O Doutorado estendeu a pesquisa para instituições da Sociedade São Vicente de Paulo em outras três cidades da região: Areado, Conceição da Aparecida e Alfenas, com a inovação da aplicação do formulário de bem estar da Organização Mundial de Saúde, o que permitiu averiguar a satisfação que tinham em morar nas instituições.

As comidas mais lembradas por eles eram, além dos pratos com frango e carne de porco, alimentos simples como arroz e feijão e doces típicos, como arroz doce e doce de leite. Se os salgados permanecem em 100% dos casos, o mesmo não acontece com os doces. Aqueles com preparação mais demorada, como doce de mamão e de cidra, tendem a não aparecer no cardápio dos asilos.

Há uma razão para isso. Um dos dados da pesquisa observou que a praticidade exigida pelos grandes centros urbanos, característicos de um modo de vida mais moderno, vem atingindo as instituições. Tanto que a de Alfenas, a maior das cidades pesquisadas, foi a que apresentou menor relação entre o cardápio oferecido e a lembrança dos idosos.

A professora Pauliana Noronha espera que a pesquisa contribua para mostrar à população destas cidades que são detentores de uma situação favorável e conscientizar para preservação disso. Boa parte dos asilos recebe doações de comida feitas por produtores e fazendeiros locais. Alguns têm criação de animais dentro da própria instituição. Ela diz que há cursos de nutrição em faculdades das proximidades e sugere parcerias para que os asilos continuem servindo alimentos típicos mantendo o sabor, e cuidando da saúde. Com isso, seria possível otimizar os custos e a produção dos alimentos, com níveis menores de glicose e sódio. Além disso, tem uma perspectiva de tese histórica que permitiria averiguar como este padrão vai mudando com as gerações. Esta tese continuada por outros pesquisadores levaria adiante a preocupação com a qualidade de vida dos mais velhos.

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