São Paulo (AUN - USP) - “O [atual] aumento do crédito é produzido pelo renascimento do espírito animal do empresariado brasileiro que estava, na verdade, amansado na crença de que não podia crescer”, afirmou Antônio Delfim Neto, ex-ministro da Fazenda, em debate na Faculdade de Economia e Administração (FEA) da USP. O evento faz parte da série de debates “A Economia Brasileira em 2010”, realizada pelo professor Carlos Eduardo Soares Gonçalves, do Departamento de Economia da FEA.
Delfim Neto, que é professor emérito da FEA, afirmou que déficit em contas correntes e inflação são consequências naturais do crescimento e defendeu uma postura mais agressiva na economia brasileira, acreditando em uma clara oportunidade de crescimento: “Não há razão para ter medo deste crescimento. Ainda que no longo prazo ele possa produzir alguma tensão inflacionária, se você realmente estiver investindo, essas coisas se corrigem”. Em sua opinião, o processo de crescimento depende, também, da crença na superação de desafios e complicações que qualquer investimento traz consigo.
Além de Delfim Neto, estavam presentes à mesa de debates os economistas Carlos Antonio Rocca, ex-secretário da Fazenda do Estado de São Paulo, e Márcio Issao Nakane, professor da FEA. Carlos Rocca começou sua fala discutindo o funcionamento do mercado financeiro e explicou que, graças à dificuldade em avaliá-lo, desenvolveu um modelo cíclico no qual o mercado é dividido em dois grupos: unidades financeiras e não-financeiras. De acordo com Rocca, as unidades não-financeiras (Governo e ONGs, por exemplo) produzem fluxos de poupança que circulam pelas unidades financeiras (bancos). Já os bancos, captam esses e outros recursos e os usam como empréstimos e financiamentos, diretos ou não, nas unidades não-financeiras para completar o ciclo.
O mesmo estaria acontecendo no financiamento da economia, através de um aumento do crédito bancário. Rocca disse que a facilidade de crédito é resultado da redução da dívida externa, e não um indicador de crescente endividamento das empresas nacionais, como dizem alguns economistas. “Se compararmos o endividamento das empresas brasileiras com as empresas norte-americanas, a alavancagem (dinheiro de terceiros usado pelo banco em negociações) é praticamente a metade”.
Em sua fala, o professor Márcio Nakane abordou as elevadas taxas nacionais de juros em números absolutos. Baseado em estudos com diferentes metodologias, Nakane afirmou que concorrência e poder de mercado não parecem ser um fator importante na elevação de taxas de juros sobre o capital. As verdadeiras razões seriam a interferência governamental nos bancos através de compulsórios (poupança obrigatória retida pelo Banco Central), tributação e mecanismos de direcionamento de crédito (quando o Estado obriga os bancos a deixar uma cota de crédito para determinado setor da economia).
Nakane explica que os bancos cobram juros maiores em suas ações livres (que não fazem parte da cota pré-estabelecida pelo Estado) para compensar suas ações direcionadas (créditos pré-estabelecidos). Outro ponto importante é o ambiente institucional, que promove baixas garantias na recuperação de capital. Como exemplo de modelo bem sucedido, o professor usou o baixo custo no crédito para aquisição de automóveis: “Isso se dá porque o próprio bem financiado, que é o automóvel, serve como garantia da operação de crédito”.