São Paulo (AUN - USP) - O calçado Moleca, da Calçados Beira-Rio, é encontrado no mercado brasileiro há mais de duas décadas. Ele é barato, cerca de R$17, flexível e popular, principalmente entre as idosas. E, de acordo com estudo do Laboratório de Biomecânica do Movimento e Postura Humana da USP, também ideal para diminuir a carga no joelho em casos de osteoartrite.
A osteoartrite é uma doença crônico degenerativa, resultante do processo de destruição e reparação das articulações. Pode ser causada por fatores genéticos, obesidade, infecções e distúrbios anatômicos, sendo sua incidência mais comum em indivíduos com mais de 60 anos. A dor e a falta de mobilidade nas articulações são os principais sintomas da doença, que podem variar muito em intensidade e ocorrência.
Foi pensando nessas conseqüências que a pesquisa foi realizada, procurando analisar se um calçado flexível e sem salto poderia influenciar na marcha e diminuir a carga articular de indivíduos com osteoartrite de joelho. “Se eu tiro a carga, eu diminuo a progressão e prolongo um pouco mais a qualidade de vida dessa pessoa”, explica Isabel de Camargo Neves Sacco, professora do Departamento de Fonoaudiologia, Fisioterapia e Terapia Ocupacional, coordenadora da pesquisa.
Durante dois anos, foram estudadas as cargas no joelho de 45 idosas em três situações: andar descalço, com sapato de salto e com o calçado Moleca. Foi constatado que no momento do médio apoio do andar, quando o joelho está totalmente estendido e a força é maior na articulação, a carga proporcionada pela Moleca foi 12% menor que aquela do andar descalço. Por ser flexível, ela permite a maleabilidade do pé, o que leva a uma maior absorção de carga, diminuindo a quantidade que chega no joelho. “A Moleca se assemelha ao pé descalço em termos de carga de joelho, e em alguns momentos ela reduz mais a carga no joelho do que o pé descalço, diferente de um calçado habitual, rígido, tipo mocassim”, explica Isabel.
Silvia Maria Amado João, professora da Faculdade de Medicina da USP presente na defesa da dissertação feita pelo mestrando Francis Trombini de Souza, destacou o impacto socioeconômico do estudo, já que a Moleca é um calçado acessível ao público brasileiro. “A gente está num país que tem que desenvolver tecnologia, informações, mas que também atendam à nossa população”, explica a professora. No Brasil, a osteoartrite atinge mais de 15 milhões de pessoas e, de acordo com dados da previdência social, é a quarta a determinar aposentadoria, com 6,2% dos casos.