ISSN 2359-5191

11/06/2010 - Ano: 43 - Edição Nº: 29 - Meio Ambiente - Instituto de Biociências
Observar ninhos é salvar futuras aves

São Paulo (AUN - USP) - A arara-azul-pequena, ou de Glaucos, (Anodorhynchus glaucus) é azul celeste ou azul turquesa, tem cerca de 70 cm e alimenta-se de fruto de palmeiras. E está extinta. Foi vista pela última vez em 1952 e não existem exemplares em cativeiro. O amor pela ave está tatuado no braço de um pesquisador jovem demais para tê-la visto.

Para que essa situação não se repita, o laboratório de ornitologia do Instituto de Biociências (IB) da USP pesquisa outra arara, a arara-azul-de-lear (Anodorhynchus leari), também ameaçada de extinção. Desde janeiro de 2008, estudam a biologia reprodutiva dessa ave, por meio dos ninhos, que é bem parecida com a de Glaucos e também confundida com a arara-azul-grande, ou do Pantanal. “Apesar de a ave ser protegida há anos, não há estudos científicos refinados sobre ela”, conta a pesquisadora e aventureira Érica Pacífico; a sua reprodução nunca havia sido pesquisada.

“Saber mais sobre a biologia reprodutiva da Arara-Azul-de-Lear é um parâmetro básico para avaliar o crescimento da população, entre outros aspectos. Os muitos dados novos obtidos por Érica são importantes também para auxiliar diretamente os projetos de conservação, tanto na Natureza quanto em cativeiro”, diz Luis Fábio Silveira, coordenador do laboratório de ornitologia da USP.

Os desfiladeiros do Raso da Catarina, no interior da Bahia, são lar dessas araras, que estão protegidas pela Estação Biológica de Canudos. A reserva é administrada pela ONG Fundação Biodiversitas.

As expedições
Os aventureiros do IB empreendem expedições de coleta de dados nos dormitórios das aves: paredões de mais de 80m de altura, com ninhos de até 18m de profundidade. Caminham um ou dois quilômetros sobre o leito de um rio seco, até chegar aos imensos paredões de arenito. Então, sentam na frente do dormitório, com binóculo e protetor solar, e esperam.

Algumas cavidades naturais da rocha são escolhidas pelas araras, depois de meses de indecisão e comparação, para servirem de ninho para os filhotes. Afinal, aquele ninho será usado pelo mesmo casal até o fim da sua vida. O trabalho das aves se inicia em setembro, quando precisam escolher, preparar, limpar e arrumar os ninhos e vai até a eclosão dos ovos, entre janeiro e maio. Ainda não se sabe quando os filhotes deixam de depender dos pais; é um dos pontos que essa pesquisa pretende solucionar.

É no período de eclosão que os pesquisadores acessam os ninhos. Com ajuda do guarda florestal, fazem rapel pelas paredes até chegar à entrada da cavidade. Para estudar o desenvolvimento da pequena ave ainda disforme, coletam sangue dos filhotes, por três vezes durante seu crescimento. Também podem descobrir se todos os ovos do ninho são irmãos. Em geral, o comportamento das araras é monogâmico. Mas tanto macho quanto fêmea podem se aventurar por outras cavidades de arenito.

Além disso, anilam e microchipam os animais. O anel perto do calcanhar e o microchip aumentam as chances de capturar uma ave traficada e verificar sua procedência. É possível, também, estudar o deslocamento a longo prazo das aves.

Certa manhã, quando foi entrar em um ninho, Érica Pacífico deu pela falta de um filhote. Procurou-o no chão, há 80m da entrada do ninho. Encontrou-o morto, entre as folhas. Logo em seguida, o seu irmão caiu. Para que isso não acontecesse de novo, a entrada da toca passou por uma reforma e ganhou um parapeito novo pelas mãos dos pesquisadores. As araras, sempre leais aos seus lares, continuam usando o ninho, após passar por modificações.

A Arara-azul-de-Lear
A década de 80 foi a mais crítica para a espécie. Sua população diminuiu consideravelmente e apenas 40 indivíduos chegaram a ser vistos – não necessariamente, porém, havia apenas esses indivíduos. Suspeita-se de tráfico ilegal e não havia proteção ou reservas ambientais. Hoje, a Fundação Biodiversitas maneja a Estação Biológica de Canudos e a O Boticário financia o estudo do IB.

A população está mais visível; quase mil animais podem ser observados. Isso quer dizer não só que os esforços de preservação estão dando resultados, mas também que há maior investimento em procurar os indivíduos azul-índigo, quase cor de calça jeans.

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