São Paulo (AUN - USP) - “Eles sabem que foram transitórias as medidas que tomaram durante a crise”, afirmou Pedro Malan, ministro da Fazenda durante o governo Fernando Henrique Cardoso, referindo-se às ações do Estado brasileiro no auge da recente crise econômica. Sua fala fez parte do segundo seminário da série “A crise mundial e o ambiente regulatório”, organizado pelo Programa de Pós-Graduação em Administração (PPGA) da Faculdade de Economia e Administração (FEA) da USP.
Malan acredita que o mundo está se recuperando da crise graças a uma forte intervenção na economia. Esse cenário é, sem dúvida, mais promissor do que em 2007, quando o problema surgiu. Explica que, como resultado do episódio, há uma nova configuração na economia global, responsável por criar polos de crescimento nos quais inserem-se os países emergentes. No entanto, Malan acha que o Estado está aproveitando mal a oportunidade. Para ele, o Brasil tem o dever de estabelecer novas medidas para garantir continuidade ao atual ritmo crescimento.
Já Luiz Carlos Bresser Pereira, ex-ministro da Fazenda no governo de José Sarney, diz que o país deveria estar crescendo numa velocidade ainda maior. Para explicar sua preocupação, Bresser diz que alguns países estão crescendo mais rapidamente que os países ricos porque ainda tem que finalizar seu processo de industrialização, característica comum de nações emergentes. Nosso país, no entanto, faz justamente o oposto: “O Brasil cresce se ‘desindustrializando’, coisa que deve nos preocupar”. Para contextualizar a afirmação, Bresser afirma que, entre 1995 e 2009, a participação da Indústria no PIB brasileiro caiu de 19% para 15,5%, enquanto a Agricultura manteve seu crescimento.
Também presente ao debate, para esclarecer os antecedentes da crise mundial, estava Albert Fishlow, especialista em História da Economia. Fishlow apresentou fatores socioeconômicos que resultaram em um comportamento de risco econômico. Em sua opinião, o fenômeno está relacionado à expansão do setor financeiro global após 1980, época em que houve elevado crescimento. As financeiras começam a ter participação crescente na economia, o que levou os bancos a gerar novos meios de crédito para ganhar competitividade: “Uma vez que você coloca instrumentos de crédito sem nenhuma experiência, quem poderia avaliar os riscos de falência?”.
Além disso, Fishlow diz que de 1991 a 2000 a economia norte-americana passa por um longo período sem recessões, pela primeira vez desde o século 19. Tal fator ajudou a promover um aumento na confiança do consumidor e, consequentemente, na quantidade de empréstimos requisitados: “Havia um impacto da riqueza visto como consumo”. As pessoas começaram a fazer empréstimos para consumir, e não para investir.
Para o ex-ministro Malan, a crença na capacidade do Estado de solucionar qualquer problema econômico foi um grande erro: “Se deixarmos de lado a depressão de 1929, quando o PIB norte-americano só foi se recuperar em 1940, as outras recessões foram todas de curto prazo”. Isso teria gerado o conceito de Grande Moderação. Esse modelo prega a adoção de políticas fiscais, como o controle da taxa básica de juros, para recuperar a economia e diminuir riscos. “O pensamento era de que se tivesse uma nova bolha haveria uma nova redução de juros e as coisas se ajustariam”, conclui.