São Paulo (AUN - USP) - A primeira edição do jornal “Identidade Itororó” foi lançada recentemente, fruto do esforço colaborativo entre moradores da vila em parceria com o Serviço de Assessoria Jurídica Universitária (Saju) entidade estudantil da Faculdade de Direito (FD) da USP, o Projeto Mapa Xilográfico e o grupo de teatro Empulso Coletivo.

A Vila Itororó consiste em um conjunto habitacional localizado em um casarão dos anos 20, no bairro da Liberdade. Desde 2005 está tramitando um processo de desapropriação iniciado pela Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo, para transformar o local em um polo de cultura na região (que, coincidentemente está a cinco minutos do Centro Cultural São Paulo e a dez da Av. Paulista com seus diversos teatros e palcos gratuitos).

O Saju está envolvido no caso desde 2007 e realizou os procedimentos legais que pôde para impedir a expulsão dos moradores, seu principal argumento era o abandono dos donos legais do terreno há mais de cinco anos e consequente direito ao usucapião pelos moradores. No momento o Estado já emitiu ordem de desapropriação mesmo sem a conclusão do processo de usucapião.

Desde então cada vez mais perceptível a atuação dos moradores em sua própria defesa, foi criada, com auxílio do Saju, uma pessoa jurídica para a Associação de Moradores e Amigos da Vila Itororó (Ama-Vila). A criação do jornal vem então como mais um recurso da comunidade para mostrar sua vontade de permanecer no espaço que sempre lhes pertenceu. “É uma forma da gente mostrar pro mundo o que está sendo feito”, afirma Edvaldo Santos, membro da Ama-Vila e um dos realizadores do Identidade.

Outra função do veículo, na opinião dos moradores, é aumentar a união entre os membros da comunidade. De acordo com Edvaldo, é grande a dificuldade de mobilização e o jornal facilita a publicação de eventos e decisões tomadas pela Ama-Vila, além de o próprio ser uma prova concreta da personalidade que o grupo criou, da sua existência. A importância dessa prova se vê em casos como o de Madalena Maria, moradora da Vila há oito anos: sua filha perdeu estágio quando seus empregadores descobriram que ela morava na Vila, dado o preconceito e desconhecimento com que vêem a Comunidade.

No dia do lançamento, o grupo Empulso apresentou espetáculo teatral discutindo a relação do homem com o espaço que ele ocupa no mundo. Com a ideia de mostrar como parte da personalidade do indivíduo se cria a partir do local onde se vive, a peça metaforizava o sofrimento de ser desterrado na figura de um homem que não queria abandonar o seu fogão, pois o fogão constituía sua casa. A frase “não abandone seu espaço” resume a performance.

Toda a produção do veículo foi coletiva e voluntária, a Associação angariou recursos dos moradores e converteu em confraternizações e no Jornal. Muitos moradores também fizeram doações voluntárias; o Projeto Mapa Xilográfico começou a confecção de um mapa temático da vila, além de ceder um auxílio de custo para a impressão dos 100 exemplares inaugurais (para a Vila, que possui cerca de 200 moradores, o número razoável); e o Saju participou de diversas reuniões e ganhou duas páginas para contar ao leitores o histórico judicial da Vila.

A atuação do Saju foi prática desta vez, mas o grupo procura não se calcar na ação direta. A entidade acredita no modelo de educação popular e procura oferecer ferramentas a esta população carente para que ela mesma consiga lutar por seus direitos e interesses.