ISSN 2359-5191

15/06/2010 - Ano: 43 - Edição Nº: 31 - Educação - Faculdade de Direito
Feministas afirmam que machismo afeta mais trabalhadoras

São Paulo (AUN - USP) - Existe machismo em qualquer classe social”, mas as mulheres mais oprimidas e atingidas pela descriminação são as trabalhadoras de classe baixa, afirmou Alessandra Soares, defendendo que o pior problema hoje para a mulher é o trabalho informal. A fala de Alessandra - trabalhadora, sindicalista e participante do Núcleo de Gênero da Coordenação Nacional de Lutas (Conlutas) - se deu recentemente no debate “Mulheres Trabalhadores e Formação Política”, na Faculdade de Direito (FD) da USP.

O debate foi organizado pelo Coletivo Feminista Dandara, uma organização estudantil existente há três anos que promove discussões sobre a discriminação de gênero enfrentada pela mulher na sociedade atual. A reunião contou com Alessandra como convidada especial, além de membros do Coletivo e alunos da FD. Alessandra afirmou no encontro, e o pensamento do Coletivo corrobora tal opinião, que até hoje a mulher não conquistou direito pleno sobre seu próprio corpo, se referindo à ilegalidade do aborto e a persistente coisificação do corpo feminino. Para elas, a origem do machismo que ainda as oprime é histórica e foi absorvida pelo nosso sistema de produção, naturalmente opressor aos trabalhadores.

As dificuldades que a classe trabalhadora de hoje enfrenta têm impacto diferenciado para o sexo feminino, como salários mais baixos para mulheres que exercem a mesma função que um homem e falta de auxílios para gestantes e mães de crianças pequenas. Mas a sindicalista afirma que o principal problema enfrentado hoje são as condições de trabalho: a grande porcentagem de mulheres que vivem de trabalho informal. Tais mães, irmãs, esposas, certas vezes não são amparadas nem pelos direitos legais já conquistados pelas mulheres.

Em relação a conquistas, recentemente foram conseguidas algumas, como o aumento da licença maternidade para seis meses, ganho considerado pequeno e insatisfatório para a feminista. A sugestão é que o tempo repouso para a mulher seja de, no mínimo, oito meses, a exemplo do que acontece em países desenvolvidos, como a França. O tempo é justificado pela dificuldade da mulher em cuidar da criança e reconstruir o próprio corpo. Além disso, a versão nacional da lei é opcional para grandes empresas e não abrange as pequenas, para as trabalhadoras informais como empregadas domésticas não registradas o benefício do repouso remunerado fica apenas no plano teórico.

Mas mesmo se todas as suas demandas fossem atingidas, tanto as convidadas quanto o Coletivo Dandara não crêem que isto poria um fim ao machismo. Para elas o fim é longínquo e depende de uma mudança estrutural na sociedade, sua atitude é pela união das mulheres e luta pelos direitos possíveis na sociedade atual. Tais direitos são conquistados primeiramente dentro da própria casa, mas sem nunca se esquecer da coletividade, pois “é um problema social e tem que ser resolvido nesse âmbito”.

Mesmo dentro da Conlutas, o feminismo ainda não conseguiu se consolidar, ainda não se fez com que “o 8 de março seja tão importante quanto o 1ª de maio”, aspiração do Núcleo de Gênero. Mas há vitórias, como a cota mínima de mulheres em cargos de diretoria, ou a preferência para mulheres quando em competições com homens por cargos de chefia. Alessandra diz que essa medida é importante para minar o machismo dentro de algumas mulheres que, às vezes, se sentem inferiores e deixam de competir. Apesar de discordar de algumas políticas de Maria Izabel Noronha (presidente do sindicato dos professores de São Paulo), Alessandra elogia a Apeoesp pela carga simbólica de ter como presidente uma mulher.

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