São Paulo (AUN - USP) - A Escola Politécnica da USP deve receber seu primeiro laboratório de interferência eletromagnética, que vai desenvolver a técnica de câmaras reverberantes. Segundo o professor Carlos Antonio França Sartori, ela deve contribuir muito para desenvolver as pesquisas na área.
O projeto está na fase final de aprovação pela Fapesp, com início do desenvolvimento iniciado há cerca de três anos nos Estados Unidos, pelo professor José Perini, que deve prosseguir o trabalho no futuro laboratório. A vantagem, segundo Sartori, é que esse modelo pode simular com muito mais fidelidade a realidade caótica dos campos eletromagnéticos. É como se fosse um “forno de microondas”, em que se fazem experimentos por meio de um campo magnético criado por uma antena em seu interior. Além disso, é economicamente viável, mais barato que outros tipos de recursos, o que facilitará o acesso à tecnologia no Brasil e em vários países pobres.
Sartori é o primeiro diretor representante do hemisfério sul no Institute of Electrical and Electronics Engineers (IEEE), da Eletromagnetic Compatibility Society, e, além de ser o responsável pela área no Centro Tecnológico da Marinha (CTM), coordena o grupo de pesquisa, junto com o professor José Roberto Cardoso, do Laboratório de Eletromagnetismo (LMAG) da Escola Politécnica, um dos mais atuantes da área no Brasil e no mundo, desenvolvendo metodologias com diversas aplicações na área de Interferência e Compatibilidade Eletromagnética.
O grupo de pesquisa dos professores busca desenvolver metodologias e ferramentas para análises de interferências magnéticas, relacionando-as aos respectivos fenômenos, como faiscamento em monitores e uso de telefones celulares, e então adequar aparelhos, harmonizando seus campos magnéticos.
Aplicações
No passado, mas principalmente nas décadas de 50 a 70, muitos problemas eram causados por esse tipo de interferência, pois foram inventados dispositivos com alta concentração de componentes eletrônicos, além de haver forte demanda de tecnologia de telecomunicação. Como exemplos desses problemas, podemos citar: problemas na imagem da televisão quando eletrodomésticos eram ligados; acionamento de impressoras quando se usavam copiadoras; interferência entre sistemas de dados e radares.
Para se ter uma idéia, em 1982, a Inglaterra perdeu um “destroyer”, na Guerra das Malvinas, porque o sistema de comunicação do navio entrou em conflito com o sistema anti-mísseis; ao se desligar o rastreador, o navio foi atingido por um míssil da Argentina. Também há vários relatos relacionados com acidentes de helicópteros e aviões durante a Guerra do Vietnã devido a interferências de radares e sistemas de comunicação com os sistemas de combustível e de navegação.
Contudo, essas interferências também podem ser causadas intencionalmente, como foi o caso recentemente divulgado pela imprensa, de os EUA utilizarem dispositivos para interferir no sistema de comunicações do Iraque.
No LMAG, as pesquisas buscam principalmente as seguintes aplicações: adequar equipamentos para situações de descarga atmosférica, já que seu funcionamento pode ser prejudicado em fenômenos assim; controlar os efeitos biológicos presentes quando interagem seres vivos com o eletromagnetismo; a pesquisa de soluções para a área médica, pois também há efeitos positivos no organismo humano; e estudos automobilísticos, já que grande parte do veículo é composta por componentes microeletrônicos, o que exige cuidados de segurança eletromagnética.
Observações:
As pesquisas no LMAG são voltadas para o desenvolvimento de ferramentas numéricas, sendo a área de interferência eletromagnética apenas uma das áreas trabalhadas.
Administrativamente, o Prof. Cardoso é o coordenador geral do LMAG.
O projeto do futuro laboratório de pesquisa, visando o domínio da tecnologia de Câmaras Reverberantes, tem parceria com o Centro Tecnológico da Marinha (CTMSP).