São Paulo (AUN - USP) - As atividades do Comitê Anti-Alca da Faculdade de Direito do Largo São Francisco começaram recentemente. No Pátio das Arcadas, um cartaz pintado à caneta esferográfica anunciava que as dez pessoas reunidas ali no começo da tarde inauguravam o primeiro grupo de estudos sobre a Alca (Área de Livre Comércio das Américas), iniciando os trabalhos do núcleo. O Comitê foi lançado durante a semana da Calourada, na São Francisco, e teve a presença de enviados da ATTAC Brasil e do Ministério das Relações Exteriores, além do deputado Luiz Eduardo Greenhalgh e representantes de outros comitês da cidade.
Integrar-se à tendência latino-americana de resistência à implantação da Alca é uma das preocupações do Centro Acadêmico XI de Agosto. “Essa tendência, por sua vez, faz parte de uma enorme corrente internacional que rejeita o modelo de desenvolvimento apregoado pelos países ricos”, esclarece o diretor do XI André Cruz. A iniciativa de instalar na São Francisco uma célula do movimento faz parte dessa empreitada: “O potencial desse ambiente, uma das faculdades de Direito mais importantes da América Latina, é de muita repercussão no panorama internacional”.
Fernando Rugitsky, também diretor do XI, identifica no Comitê duas linhas de atuação. A primeira é constituir mais um foco de mobilização em São Paulo; registrar a presença da São Francisco em manifestações e recolher assinaturas para o plebiscito são estratégias para essa frente de ação. Uma segunda diretriz visa a promover uma disputa qualificada de opiniões, que sustente o posicionamento político do Comitê com uma argumentação consistente: “Para isso, é preciso inserir profundamente o assunto na faculdade e disseminar a discussão; a idéia é mesmo ouvir opiniões diferentes, que enriqueçam o debate”, explica Fernando.
Mesmo com a irrefutável capacidade da São Francisco em alimentar o debate qualificado, o XI ainda detecta alguma dificuldade em convocar os estudantes a participar do Comitê. Uma semana depois do lançamento do Comitê, os cartazes que divulgavam a primeira reunião do grupo de trabalho foram arrancados dos murais da Faculdade.“Montar um núcleo Anti-Alca numa faculdade de tradição conservadora configura, de certa forma, um desafio”, diz Fernando. “Na verdade, sempre ocorreu aqui uma polarização, a definição de grupos com posições bem distintas. O que tem se passado recentemente com os alunos da Faculdade de Direito é uma certa conformidade. Há um pensamento corrente de que ‘A Alca é inevitável’, sendo que nada é inevitável na História”, avalia André.
O Comitê abriga até setembro um Grupo de Trabalho sobre a Alca que se reunirá quinzenalmente e deverá publicar um livro ao final dos estudos. As discussões serão pautadas por uma bibliografia indicada, que passa por nomes como Chomsky e François Chesnais. O núcleo ainda programa a organização de seminários e o levantamento de pareceres de juristas da casa sobre o assunto.