São Paulo (AUN - USP) - Toda pesquisa é caracterizada como um processo com metas: gerar novo conhecimento e confirmar ou refutar conhecimento pré-existente. A pesquisa é um processo de aprendizagem tanto do executante quanto da sociedade. Um exemplo de como as pesquisas resultam em mudanças de comportamento da sociedade é o crescimento no número de pessoas praticantes de algum esporte depois que pesquisas revelaram a relação entre sedentarismo e morte prematura.
Existe, porém, diferença entre pesquisa clínica e as outras, chamadas de pesquisas básicas. “O pesquisador clínico deve estar preparado a não receber um sorriso no final, pois ele está usando pessoas nas pesquisas”, disse a pesquisadora de Universidade de Taubaté, Sheila Cortelli. Essa é a característica principal das pesquisas clínicas: uso de humanos para o desenvolvimento de medicamentos ou produtos de estética.
A pesquisadora falou do desenvolvimento da pesquisa clínica odontológica no Brasil no XIV Seminário de Iniciação Científica da Faculdade de Odontologia da USP (FOUSP), ocorrido recentemente.
De acordo com ela, para uma pesquisa ser considerada clínica, ela precisa se submeter aos rigores impostos pelo método científico, sendo a principal propriedade a reprodutibilidade, ou seja, garantir que qualquer cientista do mundo, ao ler o relatório da pesquisa, consiga reproduzi-la. “Se não tiver rigor, uma criança faz pesquisa no quintal de casa com produtos que ele encontra e isso é ciência”, conclui Cortelli.
Hoje em dia, para facilitar a divulgação das pesquisas clínicas surgiu o Consort 2010, um guia bem utilizado no relato dos resultados de pesquisas que servem de base para os pesquisadores desenvolverem seus próprios trabalhos. O site apresenta, ainda, uma check-list com tudo que o pesquisador deve descrever no relatório para enquadrá-lo nos moldes necessários.
Globalização
Segundo Sheila, a pesquisa clínica se tornou globalizada há pouco tempo, quando ocorreu a Conferência Internacional de Harmonização (ICH) das Boas Práticas Clínicas. Essa conferência foi resultado da vontade de vários países em homogeneizar os métodos utilizados pelo mundo. Dentre tudo que foi decidido, estão: protocolos padronizados; revisão das pesquisas pelos Comitês de Ética; responsabilidade tanto dos pesquisadores quanto dos patrocinadores e padronização do desenvolvimento de medicamentos e seu processo de aprovação.
A partir da conferência, as “Boas Práticas Clínicas” se tornaram um padrão internacional, científico e ético, que assegura qualidade nos trabalhos. Elas garantem que todas as etapas sejam seguidas da maneira que haviam sido planejadas.
No caso brasileiro, a estruturação estabelecida pela conferência garantiu um aumento na qualidade da produção científica. Segundo Volnei Garrafa, pesquisador de Comitê de Ética da Universidade de Brasília (UnB), “o Brasil hoje produz mais ciência do que qualquer outro país da América Latina, o que nos dá muita visibilidade”.