São Paulo (AUN - USP) - Há um novo sistema agrícola capaz de deter o avanço da Agricultura sobre a Amazônia e ajudar a solucionar o problema mundial de falta de alimentos. É isso que defende Guilherme Leite da Silva Dias, professor da Faculdade de Economia e Administração (FEA) da USP ao propor o Sistema Agropecuário Sustentável.
Guilherme afirma que o modelo tradicional de plantação em terras amazônicas é depredador; Ocupa regiões abandonadas pelo gado e aproveita tudo que pode do solo, extinguindo seus recursos em no máximo 20 anos. O ciclo se completa com a busca por outras áreas e a entrega do terreno ao processo de arenização. O Sistema apresentado pelo professor distingue-se do atual por dois pontos principais: não exaure o solo e associa a pecuária à agricultura.
A ideia é criar gado junto à plantação, num ciclo que alterna pasto e cultivo de gêneros alimentares, aliado à adubação e constante monitoramento de solo e água, para não exaurir a terra. Através de tais ações, é possível fazer com que bois e plantas sejam mais rentáveis e produtivos juntos do que separados e auxiliem na preservação da Amazônia, afirma o professor.
Mas a aplicação do modelo está longe de ser simples. Guilherme explica que o Sistema Agropecuário Sustentável é aproximadamente três vezes mais caro para ser implementado e mantido do que o tradicional. Além disso, seu sucesso depende de um número maior de profissionais altamente qualificados: “Não tem lugar neste sistema para pessoas sem treinamento”. Há ainda o problema da migração. Se o novo modelo não adotar políticas educativas para aproveitar a população que já mora no campo, sua consolidação resultará em forte migração para as cidades.
Outro problema social é a violência agrária, presente nas bordas da Floresta Amazônica. De acordo com o professor, é nessas áreas que um novo modo de produção é essencial para impedir a devastação da Amazônia. A Reforma Agrária por si só não seria a solução, mas uma simples redistribuição de terras sem alteração da dinâmica do sistema. Como exemplo, cita a década de 70, quando uma ocupação não planejada criou focos de povoamento que avançam até hoje sobre as matas.
Guilherme também descarta a necessidade de latifúndios. O novo modelo de sustentabilidade pode ser realizado em propriedades de pelo menos 500 hectares e é compatível com a agricultura familiar. Prestação de serviços, como a contratação das máquinas em de sua compra, e arrendamento de parte da terra seriam soluções para a diminuir o custo do projeto.
A única atividade econômica não associável ao modelo é o extrativismo, pois é difícil transformá-lo numa atividade lucrativa. Para desenvolver essa prática é preciso agregar valor ao produto antes de sua venda, o que demanda muito mais gastos em infraestrutura nos setores de energia e transporte. O professor não vê essa atividade como parte da solução e acredita que seus locais de prática deveriam ser transformados em zona integral de proteção ambiental.
Ao terminar seu discurso, Guilherme foi taxativo e disse que “o boi é um desperdício em termos de eficiência de conversão de recursos, mas comer carne é um hábito encravado em nossa cultura”. Portanto, se eliminar a pecuária bovina da economia nacional é impensável em médio prazo, já é um avanço juntar animais a plantas que absorvem carbono e diminuem o aquecimento global e impedi-los de pisotear a Amazônia.