São Paulo (AUN - USP) - Em contraposição à ampla corrente que desaprovou a recente convocação do técnico Dunga dos 23 jogadores brasileiros que irão à Copa do Mundo da Fifa, José Alberto Aguilar Cortez, professor de futebol e futsal da Escola de Educação Física e Esporte da Universidade de São Paulo (EEFE-USP) e coordenador do GEPEFFS (Grupo de Estudos e Pesquisas de Futebol e Futsal), defende que a escolha leva em conta o princípio que privilegia o jogo coletivo. “Ninguém ganha um jogo sozinho. Mesmo numa corrida de 100 metros, em que uma pessoa corre contra o cronômetro, muitas vezes o recorde não é homologado porque o vento não ajudou. Num esporte coletivo muito menos”. Além disso, Cortez afirma que a convocação mostra que Dunga está decidido a levar os atletas que demonstram vontade de vencer e que vibram ao defender a seleção brasileira, o que é essencial para conquistar uma Copa.
O que dá consistência às escolhas de Dunga, segundo Cortez, são os altos índices de competitividade e eficiência que a seleção apresenta sob seu comando. O treinador gaúcho assumiu seu atual cargo em julho de 2006 e desde então o Brasil venceu 36 jogos, empatou 11 e perdeu 5. A seleção se classificou em primeiro lugar para a Copa do Mundo nas Eliminatórias Sul-Americanas, foi campeã da Copa América em 2007 e da Copa das confederações em 2008, marcando um total de 107 gols. A única derrota de Dunga foi a desclassificação brasileira nas Olimpíadas de Pequim para a rival Argentina nas semifinais. “Ele não está inventando uma equipe. Ele está mantendo os princípios que nortearam sua ida para a seleção e que foram bem sucedidos até agora”, explica Cortez.
Entre as principais conseqüências técnicas e táticas da convocação e do trabalho do treinador gaúcho, o professor da USP destaca a marcação forte, a eficiência e a transição rápida da defesa para o ataque. “O que nós vamos ver será uma equipe coesa, com cada um ciente da responsabilidade de marcar quando não tiver posse da bola”. Um modelo de jogo bonito não será a prioridade. O ideal, segundo Cortez, seria praticar um futebol vistoso e vencer, mas nem sempre é possível. Ele lembra a seleção brasileira de Tele Santana, que disputou a Copa do Mundo de 82, contando com craques como Zico, Sócrates, Júnior e Falcão, e foi desclassificada.
A preferência por muitos jogadores de força é física e estatura elevada, segundo Cortez, é uma tendência e se justifica pela importância que a bola aérea e a disputa corpo a corpo têm hoje. Em relação à criticada ausência de meias armadores na convocação, Cortez defende que eles não farão falta, já que a seleção tem adaptado seu modelo de jogo e assim vencido suas partidas. Ele só faz uma ressalva em relação ao Paulo Henrique Ganso, meia do Santos, que pelas suas características de jogo seria muito útil a esse grupo. A escolha de muitos jogadores que não estão em boa fase e são atualmente reservas de seus clubes não é vista como um problema, já que Dunga testou esses jogadores e usou um critério baseado nas respostas que eles deram defendendo a seleção, independente do momento nos clubes.