São Paulo (AUN - USP) - O Instituto de Biociências (IB) da USP está testando atividade anti-HIV – o vírus da AIDS – em folhas e caules de crótons, gênero de planta muito comum no Brasil e no mundo. Apesar do estudo ainda não ter apresentado resultados positivos, uma nova metodologia de pesquisa foi desenvolvida especialmente para esses testes, inéditos no departamento.
Os crótons são objeto de estudo de um grande grupo de pesquisadores do IB. Antônio Salatino coordena estudos que testam ação anti-câncer, anti-inflamatória e, agora, anti-HIV. “Por que não testar ação contra o retro vírus?”, diz Lucimar Barbosa da Motta, pesquisadora. “É uma coisa que nunca foi testada no nosso departamento”.
O grupo não pretende desenvolver um medicamento a partir dos testes. Já existem medicamentos e outros produtos naturais contra o vírus da AIDS. Mas é a primeira vez que é testado nesse gênero vegetal. Para que essa pesquisa pudesse se desenrolar no IB, Motta foi atrás de uma metodologia de pesquisa, equipamentos e instrumentos, no exterior.
Produtos naturais contra a AIDS, como o extrato de planta, ainda não estão em circulação nas farmácias. Porém, têm efeitos melhores do que os produtos que estão hoje no mercado; estes geram muitos efeitos colaterais e certas pessoas têm resistência a eles. Várias plantas já demonstraram atividade inibidora do vírus.
Crótons
Cróton é um gênero vegetal que abriga mais de 1.300 espécies. Classificado na família Euphorbiaceae, mesma da mamona, seringueira, coroa de cristo, entre outras conhecidas. Ocorre nas áreas tropicais de vários continentes, como Ásia, África e América. Está presente em ambientes rurais e em vasos decorativos nos jardins. Nos Estados Unidos, a pesquisa com esse gênero já está bastante avançada.
No Brasil, ainda é incipiente, mas abriga um imenso potencial: como o país tem proporções continentais, há diversas espécies que só ocorrem no Brasil, além de serem encontradas em uma área que vai do nordeste ao sul, de florestas a cerrado e caatinga.
Testes
Para entender o alvo dos testes, é preciso primeiro entender a ação do vírus nas células humanas. Como uma nave espacial, o vírus aterrissa em uma célula e se funde com ela. Para essa fusão acontecer, enzimas de fusão são necessárias. Já há medicamentos inibidores de fusão. Mas não é esse o objetivo do IB.
Depois de acoplado à célula, o vírus injeta nela o seu material genético. Esse material irá se fundir ao DNA humano. Só que há um problema: o HIV é um retrovírus, o que significa que seu material genético é o RNA, enquanto o da célula humana é DNA. Por isso, ele precisa se transformar. Para isso, são usadas enzimas de transcriptase reversa; e são essas enzimas que os pesquisadores do IB querem inibir.
Depois de colher, secar e moer as folhas e caules, deve- se ensacar o pó – tal qual um saquinho gigante de chá - e lavar com diversos solventes – como preparar o chá, para deixar as folhas dentro do saco e o extrato na xícara. Por fim, ao concentrar o extrato, ele pode finalmente ser testado. Se há algum resultado positivo, o extrato adquirirá uma coloração amarelo-alaranjada, medida por um equipamento. Depois, o grupo irá isolar as diversas substâncias contidas naquele “suco de planta”, para tentar descobrir qual (ou quais) delas tem a ação inibidora de transcriptase reversa.