São Paulo (AUN - USP) - Apesar da tendência humana para a traição, a fidelidade ainda fornece os maiores benefícios em um relacionamento. Segundo o professor do Instituto de Psicologia (IP) e especialista em relacionamentos amorosos Ailton Amélio da Silva, os custos começam com a autocondenação da pessoa que trai, que passa a se consumir por sentimentos de culpa e medo das conseqüências. Quando um “caso” é duradouro, os problemas aumentam, pois a relação com os amantes se parece cada vez mais com a relação oficial, mas sem alguns benefícios, como o horário livre para encontros e viagens.
Entre outros malefícios da infidelidade, estão a deterioração da qualidade dos relacionamentos e a perda de confiança no parceiro. Quando alguém do casal trai, perde o interesse pelo companheiro, que passa a se sentir desprezado, desatendido e desconsiderado. Após uma traição, o relacionamento dificilmente volta a ser o mesmo que era antes deste acontecimento. A maior alteração é a diminuição da confiança que o traído deposita no traidor. Em muitos casos, quando a separação é difícil, a vida do casal vira um inferno com a desconfiança e a mágoa de quem sofreu a traição.
Todos estamos sujeitos a trair e ser traído. Nenhuma sociedade conseguiu erradicar a traição, por maiores as punições que infligisse. O ser humano está propenso a trair por que não fica cego para outras belezas e atrativos por estar em um relacionamento. O que acontece é que a maioria consegue frear esses desejos, mas alguns dão continuidade, alimentando-os.
Os motivos para que a traição ocorra são muitos e vão desde a predisponentes biológicos herdados ou adquiridos à atração pelo novo ou proibido, passando pela insatisfação com o relacionamento oficial e a ausência de inibidores fortes o suficiente para impedir o ato. Isso quer dizer que quanto menos medo uma pessoa tem das conseqüências que poderão lhe ser impostas, tanto pelo parceiro traído quanto por terceiros, maior a chance de ela trair. As pessoas que tem menos restrições morais, éticas e religiosas contra a traição têm mais chance de trair.
Mesmo com isso, a traição ainda é condenada pela maioria das culturas. Historicamente, a mulher sempre foi mais severamente punida e a traição feminina considerada mais grave do que a masculina. Na melhor das hipóteses, o grau de severidade das punições é igual para ambos os sexos.
Ailton especula dois motivos para a maior punição em mulheres: um biológico e outro antropológico. No sentido biológico, a mulher tem mais riscos na traição, pois pode engravidar de um parceiro que não ajudará com os cuidados com o filho. No sentido antropológico, como os homens são historicamente mais fortes e sempre possuíram o poder político, é natural que condicionassem as penas para a traição somente no caso das mulheres que cometiam o ato.