São Paulo (AUN - USP) - Estudos realizados por veterinários trazem avanços científicos no diagnóstico da Encefalopatia Espongiforme Bovina (BSE) ou, como é popularmente conhecida, doença da vaca louca. Na USP, a pesquisa nessa área é realizada no Laboratório de Neuropatologia Experimental e Comparada da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ-USP), coordenado pelo professor Paulo Cezar Maiorka. A BSE trouxe mudanças na vigilância sanitária animal e no comércio internacional de produtos provenientes de ruminantes.
A BSE é uma das Encefalopatias Espongiformes Transmissíveis (EET), doenças que degeneram o sistema nervoso central. EETs são fatais, progressivas e demoram para serem identificadas. O quadro clínico de um animal infectado é caracterizado por nervosismo, reação exagerada a estímulos externos e dificuldade de locomoção. Formam-se lesões no encéfalo, que fica com aspecto esponjoso. Em 1982, foi descoberto que o agente infeccioso das EETs era uma proteína específica que foi chamada de Príon ou PrP (proteína priônica). Segundo Maiorka, “foi quebrado o paradigma das doenças infecciosas”, que diz que todos os agentes causadores de infecções são organismos vivos.
A PrP é resistente à temperatura e à digestão. Essa proteína é encontrada em células de todo o organismo de animais, mas na forma de PrPc (proteína priônica celular), que não causa doenças. A forma patogênica é a PrPsc (proteína priônica scrapie), que acumula-se nas células do sistema nervoso central e é capaz de converter a PrPc na forma infecciosa. A principal forma de transmissão é a ingestão de alimentos provenientes de animais infectados pelo Príon patogênico. Por isso, é proibido que rações para ruminantes contenham proteínas animais.
Animais infectados por alguma EET devem ser sacrificados. As exportações de carne de um país que tem caso de BSE caem muito. Se fosse confirmado que o Brasil é um país livre de BSE, “ele exportaria cerca de 30% a 40% a mais de carne bovina”, afirma Maiorka. De acordo com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), todos os animais com doenças neurológicas devem ser rastreados pelo próprio Ministério e todos os animais abatidos devem ter seus encéfalos analisados por especialistas. Porém, no Brasil, isso não acontece, diz Maiorka. Essas análises são feitas apenas por amostragem.
Há casos atípicos de BSE, chamados de Encefalopatia Espongiforme Amiloidótica Bovina (BASE). A BASE é um caso de doença da vaca louca no qual as lesões localizam-se em outras áreas do encéfalo. Foi identificada pela primeira vez em 2004. Já houve casos de BASE no Japão, nos Estados Unidos e na Europa. Acredita-se que foram esses casos atípicos que causaram os surtos de BSE na década de 1980. Para sua identificação é importante analisar o córtex cerebral, onde estão 90% das lesões em casos de BASE, enquanto que apenas 20% das lesões em casos de BSE. Estudos de transmissão experimental, realizados, entre outros lugares, na FMVZ, são essenciais para a definição do fenótipo da doença.