São Paulo (AUN - USP) - O tratamento para a cura da psicose infantil vem sendo desenvolvido pelo Laboratório de Estudos e Pesquisas Psicanalíticas dos Distúrbios Graves na Infância (LEPPI-TECER), do Instituto de Psicologia (IP) da USP. O Laboratório, criado em 2000, visa o desenvolvimento de estudos e pesquisas, com fundamentação na Psicanálise lacaniana, em torno do tema da psicose na infância. Também desenvolve um trabalho de capacitação de monitores e trabalha na direção da formação de terapeutas, integrando ensino e pesquisa.
A coordenadora do Laboratório é a professora aposentada Jussara F. Brauer, que trabalhou muitos anos com o diagnóstico da psicose na infância e especializou-se em seu tratamento. Segundo a professora, existem estilos de trabalho e linhas diferentes de terapia. Em sua experiência profissional, uma mudança no atendimento dessas crianças foi crucial para seu sucesso. O que se fazia antes era encaminhar a mãe para um psicólogo e a criança para outro. Isso dava pouco resultado. Jussara decidiu, então, que supervisionaria o mesmo terapeuta que atenderia tanto a mãe quanto a criança. A partir dessa alteração, os efeitos do tratamento começaram a ser mais eficientes.
Muitas pessoas confundem o psicótico com o psicopata, em parte por causa do filme Psicose, de Alfred Hitchcock. A psicose é uma forma de subjetivação diferente. Isso significa que o psicótico não consegue construir a figura do “eu”, ou seja, não se constitui como indivíduo. Sem essa separação entre o “eu” e o “tu”, toda a percepção da realidade se deforma, implicando em um sofrimento muito grande de inexistência. Uma criança que sofre de psicose, por exemplo, raramente fala e quando o faz se refere a si mesma na terceira pessoa.
A sociedade mudou muito em relação aos psicóticos. Em outras épocas, essa característica não era considerada passível de tratamento. Os “doidos” eram apenas excluídos da sociedade, não eram consideradas humanas. Todo o tratamento que se deu à loucura, até certa época, era marcado pela segregação, abuso e violência dos doentes. Não se suportava esse tipo de pessoa, pela angústia que o convívio com alguém assim pode trazer.
O LEPPI tem o objetivo de, justamente, ajudar na formação dos profissionais que lidarão com esse tipo de problema. O intuito é gerar uma reflexão por parte dos terapeutas em cima dos seus casos clínicos. Através do estudo acadêmico, das pesquisas e das defesas de teses, Jussara acredita que essa área de atuação da psicologia só tende a crescer e a se desenvolver, de uma forma que possa ajudar a vida dessas crianças.