São Paulo (AUN - USP) - Limitar a utilização dos recursos naturais. Para Ademar Ribeiro Romeiro, professor livre docente do Instituto de Economia da Unicamp, e adepto da chamada economia ecológica, é importante que se estabeleçam os custos monetários da degradação ambiental, para cobrança de multas e impostos. No entanto, é essencial determinar até que ponto um recurso pode ser utilizado sem comprometer sua capacidade de regeneração.Em recente palestra no Instituto de Eletrotécnica da USP (IEE-USP), Romeiro defendeu o conceito de crescimento zero, que prega o fim do crescimento econômico como forma de salvar o planeta, e denunciou: os atuais métodos de valoração de recursos ambientais são pautados por critérios equivocados, pois levam em consideração apenas variáveis econômicas – os impactos ecológicos e sociais são comumente esquecidos.
Ademar explica que, toda vez que uma empresa provoca prejuízos ao meio ambiente, como a poluição de um rio, há conseqüências econômicas. É com base nelas que, até então, os governos têm estabelecido valores de multas e impostos: “Eles se encarregam de precificar aquilo que não tem preço”, brinca. Esse tipo de medida, no entanto, leva a uma situação perigosa: “Para o empresário, até certo ponto, é mais barato controlar a poluição. Mas há casos em que é mais barato pagar para poluir”.
Esse raciocínio vale para todo tipo de degradação – a erosão do solo provocada por atividades mineradoras, por exemplo, tem seu “preço” estabelecido de acordo com a estimativa de nutrientes perdidos, a serem repostos por meio de adubação. Assim, para a empresa responsável pelo prejuízo ambiental, pode ser mais vantajoso pagar esse valor que limitar suas operações. É esse o raciocínio típico da economia clássica: “Por esse raciocínio, eu posso poluir o quanto quiser, desde que pague.Isso levará a algo catastrófico”, alerta Romeiro.
Para a economia ecológica, a valoração de recursos ambientais deve ser feita de acordo com uma avaliação de sustentabilidade. A utilização de um recurso não pode ser determinada por uma análise de custo feita pelo empresário. Devem, ao contrário, ser definidos seus limites de utilização, tendo em vista fatores econômicos, ecológicos e socioambientais. Além da capacidade de regeneração do ecossistema – a chamada resiliência.
Isso torna todo o processo mais complexo, uma vez que obriga que se conheçam as interações entre os ecossistemas, e destes com a sociedade.Segundo Romeiro, os prejuízos de não levar tais variáveis em conta, no entanto, criam complicações bem maiores: “Um ecossistema degradado não ameaça a sustentabilidade apenas da sua região, mas de todo um país”, conclui.