ISSN 2359-5191

22/07/2010 - Ano: 43 - Edição Nº: 57 - Sociedade - Escola de Artes, Ciências e Humanidades
História oral não é autossuficiente e difere pouco da tradicional

São Paulo (AUN - USP) - A especialista Daphne Patai afirmou, em palestra na Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) - USP Leste, que o relato histórico feito com base em depoimentos verbais não é uma disciplina à parte da história formal, mas sim uma metodologia de obtenção de informações não exatamente delineada. Daphne é professora da University of Massachusetts e pesquisadora do feminismo e da história oral.

O uso da história oral já foi ignorado pela Academia, começou a ser aceito no século XX e, de acordo com a cientista, hoje sofre uma supervalorização por parte dos historiadores, “discordo quando todo mundo aprecia muito a história oral, desprezando outras metodologias”. Para ela “não é necessariamente mais importante ter testemunhos pessoais do que ter documentos e provas físicas do fato”, tudo depende do objetivo do trabalho, qual o assunto tratado e o enfoque se deseja dar a este.

De qualquer maneira, Daphne defende sempre a pluralidade de fontes, mas explica o porquê da atração dos pesquisadores pela entrevista: “A história oral não serve apenas para nos apresentar relatos subjetivos, embora este seja um dos seus maiores e mais duradouros adjetivos. Ela é capaz de chamar a atenção para as vidas de seus narradores e as sociedades nas quais esses vivem”.

Outro atrativo, de acordo com a professora, é que, em linhas gerais, não é difícil conduzir uma entrevista, pois entrevistados tendem naturalmente a falar do que é importante para eles. As dificuldades surgem quando o questionamento é parte de uma pesquisa temática e o assunto a ser tratado é mais factual. Mas para “pessoas que estão fazendo história de vida ou estão usando história oral para fazer trabalhos mais existenciais” o melhor meio para aproveitar o conteúdo do entrevistado é deixá-lo mais livre, ser o “entrevistador invisível”.

No entanto, especificamente quando se procura histórias de vida, é necessário se ter em mente que o relato de uma entrevista é “uma história mais ou menos coerente que está sendo construída para o ouvinte”. Toda autobiografia é uma ficção, determinada não necessariamente pelos interesses do entrevistado, mas pricipalmente pela posição em que ele se encontra ao olhar o passado e como esse passado foi hierarquizado em sua memória, de modo a dar origem a uma história verossímil.

Transpondo o obstáculo da possível distorção pelo entrevistado, há de se lembrar também que essa prática também é muito suscetível a manipulações anti-éticas dos entrevistadores. A professora afirma haver “teóricos que estão apenas usando história oral para justificar suas próprias posições”, mas não é necessariamente mais difícil fazê-lo com documentos escritos, através da seleção e edição. Quando questionada sobre a inevitável perda de conteúdo ao se transcrever o áudio e influencias que isto pode ter no resultado final, a cientista é categórica: “é importante ter questões éticas em mente, mas sem deixar que estas nos paralisem ou que sejam transformadas em gestos vazios”.

Sobre a abrangência do método de pesquisa, a professora discorda do lugar-comum que diz que seu uso é exclusividade dos oprimidos, “evidentemente há muito trabalho interessante para ser feito sobre pessoas com poder, ou que tinham poder e não têm mais”, afirma. O ponto é que mesmo que poderosos tenham mais registros formais de seu passado, documentos e depoimentos têm funções diferentes e complementares, não podendo um substituir o outro.

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