ISSN 2359-5191

18/04/2003 - Ano: 36 - Edição Nº: 05 - Educação - Faculdade de Saúde Pública
Estudo mostra adaptação de crianças colombianas deslocadas do campo para a cidade

São Paulo (AUN - USP) - Os conflitos armados entre guerrilheiros e forças paramilitares fizeram com que mais de dois milhões de habitantes da Colômbia se deslocassem do campo para as cidades. O estudo “Mecanismos de adaptação de crianças deslocadas pela violência a um novo entorno: o caso de um bairro da cidade de Cali, Colômbia”, do professor Henri Granada, da Universidade de Valle, Colômbia, propõe-se a dizer como as crianças destas famílias deslocadas se adaptam ao seu novo local de moradia.

O professor Granada, em sua palestra apresentada recentemente, na Faculdade de Saúde Pública, relatou ter acompanhado durante um ano a conduta de dez crianças dentro dos sistemas que compõem o ambiente de vivência delas, ou seja, família, escola, recreação e atividades relacionadas a funções religiosas. Ele comparou o ambiente atual de tais crianças com seu ambiente anterior, observando as mudanças que elas desenvolveram para se adaptarem ao novo ambiente.

O estudo demonstrou que a mudança de ambiente provoca a mudança nos papéis desempenhados pelas crianças em seus diversos sistemas. No ambiente rural, elas vivem em sítios familiares longe da escola e dos vizinhos e rodeadas de animais. Respeitam o pai como figura autoritária e ajudam em trabalhos de casa, como recolher lenha. No novo local, cidades urbanas, a vida se torna semelhante à realidade vivida pelas classes baixas de grandes cidades brasileiras.

A nova casa não é mais própria e sim, alugada. Existem mais gastos financeiros e as mães deixam de ser apenas donas de casa para procurarem serviços alternativos que complementem a renda da família. Os pais se ocupam em trabalhos informais, como vendas, por exemplo. E as crianças, passam a dividir o tempo escolar com o trabalho, vendendo doces em semáforos. O fato das crianças trabalharem afeta o papel desempenhado pelo pai. Ele não representa para elas a autoridade da casa, ao contrário da época em que viviam no campo.

A questão do trabalho infantil gerou discórdia entre ouvintes da platéia e o palestrante. Segundo Granada, o trabalho fez com que estas crianças se tornassem mais autônomas e que tivessem mais consciência da importância do dinheiro, que é um ganho e não um presente. “As crianças deveriam ter seu tempo dividido entre a escola e o trabalho, que deve ser de acordo com sua capacidade, como pegar papéis jogados nas ruas, por exemplo”, disse o professor. Uma ouvinte discordou e disse temer que o Brasil esteja se tornando uma Colômbia, com as crianças trabalhando nas ruas.

O estudo constata que quanto maior a qualidade dos sistemas, melhor será a transição. A família é o mais importante destes sistemas para o sucesso da adaptação, porque faz o laço de ligação entre o ambiente antigo e o novo. O ambiente familiar deve ser saudável, sem brigas e abusos por parte dos pais.

O estudo concluiu que nem todas as crianças se sentem psicologicamente prejudicadas com o deslocamento e que muitas delas criam estratégias eficazes para se adaptarem.

Como aspectos favoráveis à adaptação, o professor citou as redes sociais como a família, a escola e os amigos. Quanto aos aspectos desfavoráveis, citou a deficiência de objetos de apego, como os animais que havia no campo, as dificuldades econômicas e a possibilidade de haver conflitos entre os deslocados e as famílias do bairro para onde se mudaram. Este conflito deve-se a uma lei que estabelece que parte das vagas das escolas deve ser reservada a crianças deslocadas, diminuindo o número de vagas para os filhos de antigos moradores do bairro.

Apenas uma das dez crianças acompanhadas disse preferir o ambiente antigo. Todas as outras afirmaram estar contentes com o novo ambiente porque há mais opções de diversão. Elas também disseram preferir as cidades porque o trabalho é lucrativo e menos penoso do que o trabalho no campo. Apesar da opinião positiva das crianças sobre o ambiente atual, muitas famílias sonham em voltar para suas antigas casas, que no momento se localizam próximas a rotas do narcotráfico. O governo da Colômbia tem projetos para permitir a volta dessas pessoas, como o aumento da vigilância e a melhoria nas condições da área de saúde no campo. Para os que resolvem permanecer nas cidades, o governo pretende promover cursos de capacitação profissional e incentivos à formação de pequenas empresas familiares.

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