São Paulo (AUN - USP) - Para aumentar as chances de vida de pacientes que aguardam pela doação de um órgão, a solução encontrada por alguns cirurgiões foi o transplante intervivos. A equipe responsável por transplantes de fígado no Hospital das Clínicas de São Paulo, coordenada pelo cirurgião Marcel Cerqueira César Machado, possui uma lista de cadastrados de cerca de 600 pessoas, que aguardam entre dois e três anos pela cirurgia. Muitos pacientes que estão no final dessa lista de espera não podem aguardar tanto tempo por um fígado doado e a saída é tentar um transplante intervivos.
Essa intervenção cirúrgica exige mais dos cirurgiões tecnicamente do que um transplante comum. Cerca de 60% do fígado do doador é retirado. Essa parte do órgão, com vasos sanguíneos muito pequenos, é transplantada para o paciente. O fígado do doador se regenera e em cerca de duas semanas ele já pode sair do hospital, na maioria dos casos. Como o doente recebe um fígado incompleto, para que o organismo não rejeite o órgão transplantado, deve-se reduzir a ação do sistema imunológico do doente, ou seja, deve haver imunossupressão bem maior que em transplantes normais. O uso de imunossupressores, entretanto, facilita infecções por vírus, bactérias e fungos.
O objetivo atual do grupo coordenado por Machado é realizar um transplante intervivos por semana. Esses transplantes são feitos para que o número de pessoas cadastradas diminua e são oferecidos para alguns dos pacientes que se encontram nas últimas posições da lista. Essa opção, no entanto, não é apresentada a todos os doentes. Em casos de pacientes com câncer ou hepatite C, doenças com maior índice de reincidência, o transplante intervivos não é visto pela equipe médica como solução. Machado não considera válido submeter uma pessoa sadia à doação de parte do seu fígado para um doente com poucas chances de uma sobrevida longa.
A discussão de questões éticas é fundamental quando se aborda esse tipo de transplante. Isso para que o comércio ilegal de órgãos não se beneficie. “Avaliações psiquiátricas são feitas com o doador e a cirurgia só acontece quando o médico se certifica de que ele não está agindo apenas por pressão familiar ou emocional, já que os doadores são, em geral, parentes do paciente”, enfatiza Machado.