São Paulo (AUN - USP) - Durante conversa com pesquisadores e alunos da Faculdade de Economia e Administração da USP (FEA-USP), Adalberto Alencar, assessor técnico da fundação Cepema (Centro de Educação Popular em Defesa do Meio Ambiente), contou sobre os desafios enfrentados para a implantação do cultivo de café na região do Ceará e as principais conquistas da cooperativa.
A Fundação Cepema é uma ONG que, entre outros projetos, oferece consultoria para diversas comunidades e cooperativas. Uma delas é a Cooperativa de Baturitê, no Ceará. Alencar conta que, ao chegarem à região, os agrônomos da organização depararam-se com grandes propriedades de café de sombra, conhecido por ser de menor qualidade. A situação ocorre devido à riqueza florestal da região e a saída encontrada foi iniciar um trabalho de desenvolvimento agroflorestal com vista a um manejo sustentável da produção local. Em alguns anos, o resultado obtido foi a produção de um café orgânico e sustentável, o qual é exportado para a Europa.
Porém, a trajetória não foi fácil. Das primeiras amostras de café que a cooperativa exportou, 16% voltaram, classificadas como de má qualidade. "Foi então que descobri que o café brasileiro não tem essa qualidade toda", conta Alencar, que mora na Suécia, país com forte consumo de café e alvo das exportações da Baturitê. Para driblar a má qualidade, ele explica que foi desenvolvido um processo de controle de qualidade mais rigoroso, selecionando as melhores sementes. Hoje, são cada vez mais freqüentes as pesquisas que abordam a qualidade do café de sombra quando bem cultivado.
Problemas
O especialista explica que o futuro da agricultura familiar depende desta qualidade e profissionalização. "A agricultura familiar não vai se sustentar se não tiver qualidade", alerta. Por isso, no trabalho com a Cooperativa de Baturitê, estão sempre buscando parcerias com universidades e pesquisadores. Alencar explica que, cada vez mais, filhos de agricultores estudam e se formam em grande capitais, o que indica uma defasagem de mão de obra num futuro próximo. "Filho de agricultor não é, obrigatoriamente, agricultor", aponta. Para ele, é necessário que a agricultura familiar se modernize para garantir as bases de sua sustentação no futuro. "A agricultura familiar precisa melhorar sua situação de tecnologia e acumulação de capitais para poder se sustentar futuramente", conclui.