ISSN 2359-5191

12/08/2010 - Ano: 43 - Edição Nº: 72 - Sociedade - Universidade de São Paulo
A influência do cinema japonês no bairro Liberdade

São Paulo (AUN - USP) - A criação da primeira sala de cinema do bairro da Liberdade, em São Paulo, ajudou a fortalecer a região como reduto de imigrantes japoneses e descendentes. A pesquisa apresentada por Alexandre Kishimoto mostra a influência que os cinemas voltados a exibição de filmes japoneses teve na consolidação da cultura japonesa na Liberdade. Mais do que isso, analisa o significado que o público frequentador dos cinemas trazia à experiência de poder assistir aos filmes feitos no Japão e preservar em parte a cultura da terra natal.

A Liberdade, hoje marco geográfico da cultura oriental em São Paulo, era um bairro essencialmente japonês no período posterior a Segunda Guerra Mundial. Com a inauguração do Cine Niterói, em 1953 – sala exclusiva para a exibição de filmes japoneses de época – o bairro tornou-se um ponto de encontro para os japoneses imigrados e seus descendentes. “Todo um comércio começou a se formar nas imediações do Cine Niterói, que teve um papel muito grande na formação do bairro”, diz Alexandre. Mais de 2600 filmes foram exibidos entre as décadas de 1950 e 80. “Os filmes vinham direto do Japão, e muitos deles não chegaram a ser exibidos na Europa e nos EUA. Havia uma gama impressionante de gêneros, que ia desde melodramas familiares a comédias.”

Os cinemas era uma fonte de conhecimento e informação para os imigrantes que moravam em São Paulo. Noticiários eram exibidos sobre a situação do Japão no pós-guerra. Os filhos dos imigrantes, nascidos no Brasil, tinham a oportunidade de conhecer a cultura tradicional japonesa através dos clássicos cinematográficos de diretores como Kurosawa e Ozu. Os japoneses reencontravam o Japão, que se encontrava longe na memória, naquelas salas escuras. “A historia do cinema da liberdade tem muito a ver com a imigração dos nipônicos para a cidade”, afirma Alexandre.

Os filmes, que eram exibidos com legendas, atraiam uma multidão de pessoas. Os antigos frequentadores entrevistados pelo pesquisador definiram que ir aos cinemas era como “um ritual”. Eram nas filas das portas dos cinemas que aconteciam as paqueras entre os nikkeis (descendentes de japoneses). A entrevistada Olga Futemma relembra dos tempos de juventude nos cinemas: “arruma-se o cabelo, a roupa, contando-se inclusive com a parada na fila, porque era o momento de olhar e ser olhado. E sim, aconteciam paqueras.”

Aos poucos, chegou-se a formar um público sem relação com a cultura japonesa, que frequentava os cinemas para assistir aos filmes dos grandes diretores japoneses. O cineasta Carlos Reichenbach era um dos frequentadores assíduos do cinemas da Liberdade. Em depoimento para a pesquisa, ele disse que “houve uma época em que eu só via filmes japoneses” nos cinemas da Liberdade. Essa agitação social colaborou para a integração da Liberdade com o centro de São Paulo.

Alexandre Kishimoto agora prepara-se para realizar pesquisa semelhante sobre os cinemas ambulantes que eram exibidos no interior paulista. “A exibição de filmes japoneses começou nas cidades do interior, aonde haviam núcleos de imigrantes japoneses que trabalhavam nas fazendas de café. Eles percorriam as estradas de ferro e exibiam os filmes. Era muito interessante”.

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