ISSN 2359-5191

03/09/2010 - Ano: 43 - Edição Nº: 74 - Ciência e Tecnologia - Escola Politécnica
Cerâmica é produzida reaproveitando o lodo; projeto ainda não foi aprovado

São Paulo (AUN - USP) - O processo de tratamento de água da cidade gera uma grande quantidade de resíduos, que geralmente são descartados como inutilizáveis, como uma espécie de lixo necessário para a boa limpeza da água que chega à população. Parte destes resíduos, o lodo, é remetida novamente para os córregos ou jogado em aterros sanitários da cidade. No entanto, pesquisadores do Departamento de Engenharia Hidráulica e Sanitária da USP estão reaproveitando o lodo para produzir, com bons resultados, blocos de concreto e cerâmica que podem ser utilizados pela indústria civil.

A substituição da tradicional argila pelo lodo na cerâmica traz inúmeros benefícios às industrias, às estações de tratamento e aos córregos e rios da cidade que, de outra forma, seriam cobertos de sólidos indesejáveis. “Há uma tendência, infelizmente também no Brasil, de se lançar o lodo nos corpos d’água. Essa é uma questão que precisa mudar rapidamente”, afirma a Profa. Dione Morita, coordenadora do projeto. No Brasil, setenta por cento das estações de tratamento de água ainda lançam o lodo diretamente nos rios mais próximos, poluindo-os e provocando toxidade crônica, liberação de odores e redução de pH da água. Os impactos ambientais seriam drasticamente reduzidos com a utilização deste lodo para fins industriais.

Os testes feitos em laboratórios e em parcerias com companhias de cerâmica mostrou que, ao substituir cinqüenta por cento da argila por lodo, a cerâmica apresenta resultados consistentes nas emissões no forno, além de aumentar a vida útil da jazida da empresa. Para as estações, o uso do lodo diminui em trinta e três os custos que teriam com o aterro sanitário. “Hoje tentamos reaproveitar esse resíduo, que é bom para todos os lados”, diz a pesquisadora Dione Morita.

Paradoxalmente, o entrave para a utilização das cerâmicas com lodo incorporado é da própria burocracia governamental, que ainda não liberou o emprego do material na industria. Coordenadora do projeto, Dione Morita enviou há seis anos o projeto para a aprovação da Cetesb, que ainda não deu o parecer sobre o caso. “Nós fizemos todos os estudos, análises de risco, mas mesmo assim não temos respostas quanto a utilização. O problema não é técnico. É um descaso público. Eu até já desisti de pedir a aprovação, depois de tanto tempo”, confessa Dione.

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