São Paulo (AUN - USP) - Nos Estados Unidos, o número de crianças e jovens que são vítimas de exploração sexual excede 200.000. A situação nos países vizinhos – México e Canadá – também é crítica. O tema foi discutido recentemente pelo professor da University of Pennsylvania, Dr. Richard Estes, na palestra “The Commercial Sexual Exploitation of Children in the Americas”, na Faculdade de Medicina da USP. Baseado em dados do Penn Scholl of Social Policy and Practive (SP2), o professor explicou o quadro existente nos países norte-americanos.
“O que uma criança pode oferecer para a economia das ruas? Ela não pode trabalhar formalmente, mas tem sua beleza e juventude para dar”, relembra Richard. Através de pesquisas realizadas com vítimas, consumidores e traficantes do comércio sexual infantil, a SP2 procura determinar a natureza, a extensão e as causas da exploração infantil. O objetivo é identificar a rede de operação existente e quem está envolvido nela.
No quadro de pesquisa, há 17 cidades estadunidenses. Suas características em comum são: cidades grandes, turísticas – “san and sun” – ou de negócios, como Las Vegas, New York City e San Francisco. No México, o estudo envolveu sete cidades, localizadas próximas às fronteiras. Já nas quatro cidades canadenses, o foco não foi a prostituição infantil nas ruas. Por apresentar um quadro parecido com o estadunidense, no Canadá, a pesquisa se restringiu na pornografia de menores.
Os estudos mostram que a inserção dos jovens no comércio sexual tem a ver com a pobreza e com a disfunção familiar. Nas ruas, a prostituição é feita por crianças que fugiram de casa devido à violência física ou sexual; ou que foram expulsas do lar por causa de drogas. “Os jovens não veem futuro nos estudos ou no trabalho, então decidem entrar neste mercado”, afirma o professor. Além dos parentes, os amigos e colegas de escola também são os grandes responsáveis por influenciar as crianças a optarem por esta vida. “A menina aparece com uma bolsa nova na escola. Ela faz parecer simples: basta fazer uns vídeos na Internet; as pessoas pagam bastante por eles”, explica Richard.
Em pequenas comunidades do interior estadunidense, é frequente ver pais oferecendo seus filhos para o comércio sexual. “Eles não reclamam porque veem uma forma de ganhar dinheiro”, justifica Richard. A pesquisa identificou como sendo os principais grupos de consumidores: os militares, os “seasonal workers”, os caminhoneiros e os motociclistas.
Apesar da SP2 ainda não atuar no Brasil, Richard Estes afirma que é sabido que desde 2004, o tornou-se a capital mundial da pornografia. De maio de 2003 a março de 2010, o Disque Denúncia Nacional realizou mais de 2 milhões de atendimentos tendo recebido e encaminhado mais de 120 mil denúncias de todo o país. Na palestra, Richard citou alguns projetos que trabalham pelos direitos da criança e do adolescente no Brasil, como o Instituto Criança É Vida, o Fundo Brasil de Direitos Humanos e a Organização Childhood Brasil.