São Paulo (AUN - USP) - Continuidade. Segundo professores de política e economia da USP, esse será o resultado das próximas eleições no Brasil, independente do candidato eleito. A afirmação foi uma das conclusões a que se chegou durante um amplo debate sobre as eleições de 2010, promovido pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) no início do mês, e que contou com a participação dos professores André Singer e Brasílio Sallum do Departamento de Política da faculdade e de José Ely da Veiga do Departamento de Economia da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA).
Atravessando temas como os resultados das pesquisas, o crescimento econômico, a desigualdade social e o sistema político-partidário do país, o encontro promoveu uma discussão cujo objetivo foi “expor diferentes pontos de vista de diferentes especialistas sobre a situação política”, conforme afirmou o professor Cícero de Araújo, mediador do evento. Apesar das diversas perspectivas acerca da realidade brasileira, quanto ao futuro do país, que será decidido nas eleições no próximo domingo, houve unanimidade: o recado das urnas será o da continuidade do conjunto de políticas que o governo Lula vem adotando para o país. Até mesmo José Serra, candidato da oposição, se coloca com um homem capaz de fazer mais e melhor, mas que não irá mudar substancialmente a maneira como o governo se relaciona com a sociedade, diz Brasílio Sallum. “Isso diz um pouco a respeito dessa continuidade”, completa.
A maioria do eleitorado, segundo André Singer, quer que a atual situação de crescimento econômico com distribuição de renda continue. Brasílio Sallum lembrou que o padrão de Estado que o país constrói segue um projeto contínuo desde 1995: governos brandamente liberais, democráticos (apesar das limitações) e com capacidade de interferência na economia. Seguindo essa espécie de padrão político observado nos últimos 15 anos, o país tem registrado, sobretudo no governo Lula, índices até então elevados de crescimento econômico: 5,4% em 2007 e 5,1% em 2008.
Se o país avança e cresce economicamente, os professores lembram-se da desigualdade social brasileira. Eli da Veiga salienta: “é inegável que o país teve avanços e que eles se exprimem em vários indicadores. O que choca é o descaso com o saneamento básico, por exemplo”. Se há diferentes maneiras de se medir e entender a pobreza, diz o professor, também há outros indicadores que avaliam a desigualdade no país, além dos números da economia, evidenciando que esse debate é muito mais complicado. Sallum recordou-se da “brutal desigualdade da propriedade” no país. Eli Veiga ressaltou que “a desigualdade racial, embora não goste da palavra, é muito mais séria do que a distribuição da renda” e defendeu que o correto seria a substituição do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) pelo Programa de Qualidade do Crescimento.
Por conseqüência da continuidade do sistema político justificada pelo conforto da população com a estabilidade econômica, Sallum considera que essa eleição tem sido apática; sem grandes alternativas em jogo. Eli da Veiga vai mais além em suas críticas: “o tal presidencialismo de coalizão é uma perversão. O presidente eleito terá mais de 50% dos eleitores votando nele, mas chega lá e é refém de tudo o que há de mais atrasado no país. É obrigado a se aliar a tudo que há de pior. Não é nem à direita; se aliam à escória, necessariamente”.