ISSN 2359-5191

23/05/2003 - Ano: 36 - Edição Nº: 07 - Ciência e Tecnologia - Instituto de Ciências Biomédicas
Professor estuda ratos medrosos

São Paulo (AUN - USP) - Um rato de laboratório, criado sem contato com nenhum tipo de predador, ao avistar um gato pela primeira vez, quer fugir da gaiola, e, ao perceber que não conseguirá sair, fica parado para não chamar a atenção. A experiência, realizada pelo professor Newton Canteras, mostra que há um medo que não é passado através de ensinamentos dos pais, por exemplo, mas inato nos animais. O estudo das regiões do cérebro envolvidas na resposta de defesa natural de ratos é o objetivo das pesquisas do professor Canteras.

Ele mapeou as regiões ativadas na resposta aos predadores e encontrou uma região do cérebro que correlaciona as informações relativas ao mapeamento do meio ambiente com a orientação da presença do predador: o núcleo pré-mamilar dorsal. Esse núcleo, ao receber as informações, manda uma mensagem para uma região do cérebro que é responsável pela resposta ao perigo, caracterizada no roedor como tentativa de fuga ou congelamento motor.

A importância do núcleo pré-mamilar dorsal foi confirmada em uma experiência em que essa região era lesada. Após o procedimento, o rato não apresentava as mesmas características de medo inato. Ele, ao avistar o predador, continuava aparentemente calmo em sua gaiola. Segundo o professor Canteras, a cobaia percebia o gato, além de continuar recebendo as informações sobre o ambiente, porém não conseguia formular as respostas esperadas em um animal sadio, como medo e vontade de sair da gaiola.

A primeira coisa que o rato percebe, quando perto de um predador, é o cheiro, através de uma região específica da amídala. Depois o animal recebe outras informações sobre o predador e o ambiente. A partir daí, o núcleo pré-mamilar dorsal é acionado e ativa a matéria cinzenta periaquidutal, que dá as respostas adequadas ao perigo.

Os estudos do professor Canteras expandem o trabalho do professor Joseph Le Doux relativo ao estudo do medo aprendido. Nesse procedimento, o rato é exposto a um estímulo neutro (como uma música) e ao mesmo tempo leva um choque. Com o passar do tempo, apenas ouvindo a música, o rato já desenvolve medo do choque, ou seja, ele “aprende” que aquele som é associado a um fato aversivo.

A elucidação das bases neurais envolvidas no medo inato e aprendido pode auxiliar pessoas com distúrbios afetivos, como síndrome do pânico ou ansiedade. Conhecer os mecanismos neurais seria parte fundamental do processo para criar novos fármacos que possam atuar sobre sistemas neurais específicos, aliviando a vida de pessoas que padecem desses problemas.

O professor ressalta, contudo, que o foco atual das pesquisas é aprimorar o entendimento dos sistemas neurais envolvidos na resposta de medo condicionado e inato, usando estímulos não nocivos aos animais e que causam aversão natural, como um predador natural.

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